26 setembro, 2011

O último exagero

Gosto de ciclos. Gosto de iniciá-los e findá-los. É bom, instiga, dá à memória o conteúdo a recordar e orgulho, se houver, à consciência. O 1,99 - Hipérboles do Torres é mais um dos meus ciclos, um dos mais produtivos, um dos mais interessantes, um dos que mais me trouxeram frutos. E, hoje, é o ciclo que se encerra. Após mais de dois anos  e de 108 textos hiperbólicos, é hora de terminá-lo.
Encarem isso como um livro: houve a página inicial e, agora, há a despedida. Foram mais de 12 mil visualizações, de brasileiros, é verdade, mas também originárias dos EUA, Portugal, Alemanha, dentre tantos outros. Até de Burundi houve acesso! Isso sem contar as centenas de comentários. A cada semana, uma história diferente. Houve quem se emocionasse com textos românticos, quem se perguntasse o porquê de certas filosofias, quem se divertisse com ateísmos e os que se revoltassem também, é claro. Hipérboles, em suma.
Não sei ao certo se havia alguém que me lia toda segunda-feira. Se sim, não se deprima. Continuo na ativa. Seja no Twitter ou no Facebook, além de participações em outros blogs... Vocês vão me ouvir por aí... Apenas esse canal, esse blog, finda hoje. Mas, a qualquer momento, textos antigos poderão ser acessados, fiquem tranquilos.
No mais, não há mais nada. Muitíssimo obrigado a todos os que por aqui passaram, mesmo que rapidinho, mesmo que contrariados, mesmo que sem limpar o pé no tapete da entrada. Só não vou dizer que "foram vocês que fizeram isso acontecer" porque aí já é forçar demais a barra!
Por fim, o maior exagero é o único que nunca falo: dizer que algo é pra sempre.

19 setembro, 2011

Meus galhos

Quantos de vocês têm a quem recorrer em qualquer situação? E quantos de vocês têm uma casa pra chamar de sua mesmo que não possua as chaves da porta? Melhor: quantos de vocês têm alguém pra chamar de irmão ou irmã sem ter compartilhado do mesmo útero ou do mesmo esperma?
Ora, faz bem! A amizade é uma mãe de tetas fartas: nutra-se dela, sugue a felicidade, chupe, construa o elo! Amizade é isso mesmo! É dançar Volare em cubículos. É fazer de uma rua um soberbo império. É ficar bêbado com um gole de álcool. É satirizar quem não entendeu a piada. É ser a própria piada. É pura miscigenação. É criticar narizes, peitos, orelhas e todos os outros defeitos possíveis e enxergar no outro uma amostra da perfeição. É soltar os palavrões mais infundados e dizer "eu te amo, amigo!" da maneira mais sincera.
Amigos chegam aos contêineres. Bons amigos, verdadeiros, infindáveis, chegam como telegramas: raramente, discretamente e, quase sem querer, acabam guardados, dobradinhos, para que não se percam. Bons amigos são os que tomam caminhos opostos aos nossos, mas que, quando acabam se cruzando, eles continuam com a velha conversa gostosa, a mesma intimidade e os mais belos sorrisos.
É nesses galhos que me agarro nos pulos mais duvidosos. Não são os troncos mais chamativos, é verdade: são tortos, rígidos, até um pouco asquerosos. Mas eu também não sou o macaco mais interessante dessa selva, então... Pulo! Pois neles sei que posso confiar e que, se cair, o galho despenca junto.

Amo vocês, amigos

12 setembro, 2011

Dote

Em tempos de crise, hábitos antigos são revistos e readaptados. Num passado não muito distante, os pais das meninas pagavam à família dos rapazes para que se casassem com elas. Apenas durante esse período o casamento era lucrativo para o homem. Refletindo sobre isso e pensando adiante, resolvi buscar na história esse costume perdido: o dote. Não quero o casamento, só o dinheiro. Para tanto, apresento-lhes, interessadas e interesseiras, meus atributos e, para não ser desonesto, meus senãos. Pois então, cá estão.
Dos positivos: carinhoso; fofo; educado; preocupo-me com meus amores; sei falar sobre tudo; autoestima elevada; gosto de animais; danço com maestria; traços faciais desenhados; braços esculturais; sou sensível; não me rebaixo por nada; trepo bem; prezo pelo prazer da minha companheira; se preciso, minto rapidamente.
Dos negativos: carinhoso beirando o brega; fofo, eufemismo para o descontrole na hora de comer; educado em escola pública; meus amores normalmente são livros e filmes; falo muito pouco; autoestima chegando em Narciso; sim, gosto de pets, mas não me apareça com um gato na frente!; danço bem o Rebolation; traços faciais desenhados por Picasso; braços esculturais, fruto dos gessos que usei; tão sensível que ando rebolando; não me rebaixo, mas adoro baixaria; trepo bem em árvores; prazer por prazer, melhor comprar um vibrador; minto ainda mais rapidamente quando não preciso.
Noves fora, zero!

05 setembro, 2011

O paraíso é aqui

Quando os portugueses descobriram o Brasil, que ainda não era Brasil, não era um país, mas já era perdido, disseram encontrar aqui o paraíso, o verdadeiro Éden. Se os lusitanos tiverem razão, há discrepância em relação à história oficial de Deus que, pelas mãos dos homens, assinou a Bíblia e assassinou os que dela discordaram.
Se a versão d'além-mar estiver correta, deve-se fazer correções. A primeira, mais óbvia, é a árvore proibida: não seria uma macieira. Seria um cajueiro ou um pau-brasil, mas o mais certo é que seria uma bananeira. Nesse caso, comer uma banana poderia ser visto com um pecado, devido às obscenidades associadas, e a cobra, essa sim, faria todo o sentido.
O Éden brasileiro seria um paraíso fiscal. E Deus, no gênesis, antes de criar o céu, a terra, o homem e blá, blá, blá, criaria a burocracia, que é o importante. Adão, o primeiro homem, em vez de dar nomes aos animais, usaria sua criatividade para nomear as operações policiais com esmero. Satiagraha seria o apogeu!
Por fim, levando em conta o próprio documento divino, pode-se concluir que Deus é brasileiro e também o Éden. O que seria a feitura de Eva a partir de uma costela senão nosso tão conhecido "jeitinho"?

29 agosto, 2011

O homem grávido

Juro. Juro que me precavi! Tomei remédios específicos, usei bloqueios, fiz o que estava ao meu alcance. Mas aconteceu... Ainda não sei como, mas aconteceu. Fui num médico após alguns enjoos e sensações esquisitas; após um rápido e conclusivo exame, ele, com um perfil indescritível (mesclava espanto à vontade de rir), apertou minha mão, parabenizando-me, e confirmou: "Você está grávido!"
Estou de três meses e já comecei a organizar tudo. É importante estar bem preparado para quando chegar a hora. Comecei a pesquisar carrinhos e berços, comprar alguns pacotes de fraldas, quando as encontro em promoção, e leite, é claro, muito leite. Esse vai ser um dos meus principais gastos, com certeza. Uma coisa é certa, não vou fazer teste de DNA: eu já sei quem é o pai.
Minha barriga mostrou algumas mudanças: começou a crescer. Por enquanto vou manter essa criança em sigilo e, se me perguntarem, digo que andei tomando cervejas demais. Quando estiver realmente grande, invento qualquer outra história. Tem tanta gente gorda por aí hoje em dia... Falo que engordei, mas que já penso numa cirurgia de redução do estômago. E em adoção, claro.
Grávido. Grávido! Coisa estranha... Uma criança é uma grande responsabilidade, sem dúvida, exige maturidade, atenção, dinheiro, paciência... O que me preocupa mesmo, no entanto, é saber por onde, diabos, esse bebê vai sair!

22 agosto, 2011

Imigração

Sobre os movimentos migratórios no mundo, poderíamos dizer o seguinte:

EUA é uma conservadora.
A Europa é a safada comedida: às vezes deixa que entrem, às vezes se fecha.
Cuba é um pênis encapado: todos querem sair, mas ninguém consegue romper o bloqueio.
A Índia goza cérebros para o mundo.
E o Brasil?
Bom, o Brasil é uma puta: abre as pernas para todos os povos do mundo.

15 agosto, 2011

Estrutiocultura pelo fim da fome!

Não é possível! Inadmissível! Será que ninguém nunca pensou nisso antes? Após elucidar a ideia, fiquei a questionar sobre a viabilidade do recurso e o fato de nunca ter sido apontado. Dentre os inúmeros problemas que inundam a África, de ditadores a doenças, um é crucial, majoritário e, espero eu, após esse texto, uma dificuldade do passado: a fome. Há cerca de um milhão de bocas para se alimentar! Para tanto, resolveria-se esse enorme impasse com uma solução de grande porte: o avestruz.
Não me entendeu? Pois explico-me. Não sou especialista, mas andei pesquisando sobre a estrutiocultura (qualquer idiota munido de um computador e internet, atualmente, pode se intitular pesquisador) e percebi o quanto é viável. O espaço que um boi necessita, por exemplo, pode ser preenchido por 100 avestruzes. Eu disse cem! Nem os japoneses conseguem ocupar tão bem o espaço quanto essa ave. A carne é nobre e farta! Há penas e mais penas para preservar a cultura do povo e esquentá-lo. E, para um continente tão sedento como o africano, uma omelete de ovo de avestruz sacia a fome de meio Congo. E por uma semana.
Ora, o avestruz é uma ave oriunda da África e habita grandes extensões do continente, principalmente a parte subsaariana, a mais pobre. Será que a ONU não percebe isso? Será que não vê que seria muito melhor instalar campos de criação dessas aves aos campos de refugiados? O que você acha que um pobre faminto escolheria: uma barraca de lona ou um X-egg?
Fica a sugestão... Façam isso ou se façam de avestruz e enfiem a cabeça na terra para não ver o problema.

08 agosto, 2011

Minha menina

Minha menina não tem modos. Ela, "criada na mais luxuosa baia suíça", arrota indiscriminadamente, não sabe manusear o talher e não segue os padrões da sociedade. Minha menina não gosta de padrões. Ela não pinta as unhas, não usa vestidos, não se enfeita com brincos, anéis ou maquiagens, nem dá tanta atenção ao penteado. Minha menina tropeça, é descoordenada, desengonçada, esquisita, vive ébria. Minha menina é exatamente tudo o que uma mulher não é. Nem por isso deixa de ser uma.
Minha menina tem o olhar penetrante, negro, fulminante. Seus olhos são difusos e olham, em ângulos diferentes, para o mesmo lugar. Minha menina não tem nenhum grande atributo corporal, não rebola, dança comedidamente. Minha menina é tímida. Mas também sabe ser escandalosa. Minha menina nunca sabe o que quer, ou nunca quer dizer o que ambiciona, não sabe iniciar uma conversa, mas sabe integrar-se em assuntos do passado. Minha menina ri sem pudor, deliciando-se do momento, e termina com um "ah", de suspiro.
Minha menina gosta do detalhe e se prende a eles. Sabe dizer a data do aniversário de todos que conhece, sabe de cor as datas que marcaram sua vida, sabe que nem todos, quase ninguém, compartilham da mesma fixação que ela, mas nem por isso deixa sua mania de lado. Minha menina de corpo plástico, mas não muito flexível, problemático, mas imperecível, sente cócegas por todas as lacunas. Minha menina gosta do toque aveludado, mas também gosta de puxões e apertos nas costas. Minha menina tem calafrios se seu pescoço for alvo de carícias. Minha menina fecha os olhos para aproveitá-las todas.
Adotei a menina há um ano. Ou ela me adotou, não sei bem. O fato é que quando soube que ela queria correr para os meus braços, não hesitei em abraçá-la e, desde então, não mais a soltei. Minha menina aprende comigo diariamente e me ensina o quanto, cada vez mais, dependo dela. Minha menina é pouco sentimental, mas não tem dificuldades em chorar por qualquer motivo. Dou-lhe meu ombro sempre que posso. Minha menina sempre dorme em meus braços, mas nunca ouviu meu "boa noite". Minha menina é terna, e nosso amor, paternal. Às vezes beijo-a na testa para dar certeza do meu sentimento por ela e para dizer com os lábios, sem usar a língua, que ela é só minha. Minha menina.



Minha mané! Um ano. Como eu já disse: meu amor por você é do tamanho dos meus exageros. A última parte do seu presente.

01 agosto, 2011

Nem te conto desse conto!

Era uma vez (sim, apenas uma, pois história como essa nunca ocorreria duas ou mais vezes) um suíno, que, daqui em diante, por motivos eufemísticos, narrativos e clássicos, será tratado como porquinho, uma vagabunda, obviamente leviana, de hábito específicos (usava, por exemplo, religiosamente, uma capa vermelho-fogo-desbotado), a qual atendia pelo nome de Chapeuzinho Vermelho, e um selvagem rousseauniano de trajes precários e ínfimos, conhecido tanto pela antonomásia a ele atribuída (Homem-macaco) quanto por sua designação: Tarzan. Do seu nome, John Clayton III, no entanto, ninguém sabia. Os três eram amigos.
Amizade sincera. Como tal, não havia interesses por trás das relações cultivadas. A diversão destes três era nadar no lago da floresta da chácara da Branca de Neve. Nadavam nus. O porquinho estava sempre dessa forma. Tarzan não tinha grandes dificuldades em despir-se de sua tanga. E a Chapeuzinho tirava o agasalho com cuidado, precavendo-se para que a peça não enroscasse no piercing do mamilo direito. O assunto dentro d'água era sempre o mesmo: sexo. Ninguém se excitava, porém, em respeito à amizade. Conversavam sobre como conquistariam o objeto de desejo de cada um. Em certa data, em comum acordo, todos se comprometeram a declararem-se aos seus amores. E foram.
O porquinho visava a uma relação interespecífica com o Lobo Mau. Chegando na casa de seu amor, bateu à porta e exaltou todas as qualidades que via, declarando-se apaixonadamente. O lobo, indiferente, respondeu que, de acordo com a dieta do nutricionista, não podia mais comer carne suína e fechou a porta. Voltou o porquinho ao lago, decepcionado. Chapeuzinho, bissexual, bateu palmas chamando a Rapunzel em sua torre. Gritou: "Me deixe subir nos seus cabelos que eu faço você subir ao céu, Rapunzel!". A princesa, irritada, mandou descer seu marido, Edward Mãos de Tesoura, para expulsar a menina. Foi-se embora Chapeuzinho, xingando a cabeluda. Tarzan não teve mais sucesso que seus amigos. Acabou sendo agredido por João, com uma baguete, enquanto flertava com Maria. Encontraram-se todos no lago, contaram suas decepções e se abraçaram. Decidiram, então, já que ninguém os queria, dar uma chance à rotina. Fizeram uma orgia no lago.
Ou seja, no fim das contas, dois mais dois dá sempre quatro. Ou de quatro.

25 julho, 2011

Partido Meridional

Nasce uma nova opção. Mais uma opção. Mas não qualquer opção. Trata-se de uma novidade, de uma conquista do povo, mesmo que ele não tenha nem terá qualquer participação na história. Surge, para o delírio dos comentaristas de jornais e para aumentar a confusão dos eleitores, o Partido Meridional.
Não, esse não é o nome do partido. Ainda não ficou decidido qual será. Talvez seja esse mesmo, vá lá, de que importa? Significativa é a proposta inovadora! Não, não as propostas para possíveis e futuras governanças. Essas serão como a dos outros partidos: não teremos ideologia clara, diremos que nosso compromisso é com os eleitores e somente com eles, barganharemos votos no congresso por cargos no governo e, em momento algum, diremos "Sim, fomos nós!". A não ser que se trate de algum investimento positivo...
O que se quis dizer com "proposta inovadora" é quanto a orientação do partido. Não seremos de esquerda. Não seremos de direita. Não seremos do centro. E também não seremos uma cópia do PSD do Kassab. Seremos meridionais. Sim, sulistas, sul-americanos, mas não retrógrados. Gostamos de dinheiro, sim, senhor, e trabalhamos por ele.
Em breve lançaremos um site e um estatuto do partido. Só a mesma baboseira dos outros. O bom mesmo já está pronto. Fizemos um slogan! Vejam se não é bom, caros futuros eleitores: "Partido Meridional: assim como o café, é o mais forte!"

18 julho, 2011

Seio materno

Hei, mãe, que coisa é essa que gira e me deixa tonto, que mundo é esse liquidificando sonhos, pessoas, e tudo mais? Por que me trouxe aqui, afinal? Não posso saltar as órbitas, mudar-me para onde me amem, deitar-me sob a noite sem que ela caia sobre mim? Hein, mãe?
Mãe, estouraram o balão que você encheu. Comeram a cereja do bolo. Levaram meu cobertor embora, mãe, e ninguém veio me cobrir! Mãe, eu estou com frio! Eu estou com fome! Eu estou morrendo de fome e de frio! Eu estou morrendo! A culpa é sua, mãe, mas não é. E agora, faço o quê?
Hei, mãe, eu juro que tentei entender o que se passa, mas não consegui. Você me explicaria? Queria saber pra que tantos passos se todos continuam no mesmo lugar. Queria visualizar a finalidade de se arrumar a cama se se desarrumará com o chegar da noite. Queria achar o motivo das falsas promessas. Queria conhecer a chaira que as pessoas usam pra amolar as palavras. Queria compreender por que se embebedam de ódio e vomitam amor. É querer demais?
Não sei, nem você deve saber. Mães só dão a luz uma vez aos filhos. Depois, só abraços e mãos na cabeça. Mãe, tire a mão da minha e, em vez do abraço, estenda e pegue o meu braço. Se quiser me salvar, mãe. Porque o abismo me chama e ele puxa como a ressaca.
E, hei, mãe, eu quero um beijo de boa-noite.

11 julho, 2011

A parenta

Pensei em algo para escrever (nessa árdua e constante rotina de um escritor). Em busca de inspiração, vi filmes, li livros, passeei por lugares, escutei músicas, conversei um bocado, amei, beijei, vivi; nada!
A inspiração é a parenta de quem mais sinto saudades e que menos vem me visitar. Até hoje não sei onde mora; se soubesse me mudaria para sua casa. Até hoje não sei sua idade; acho que é muito jovem, pois sempre me inunda de criatividade, e também muito madura, pois sempre me parece complexa. Até hoje não troquei uma frase com ela que não fosse "Hei, já vai?". E, mesmo tão ausente, nunca me esqueço dela.
Essa parenta é o inverso de qualquer outro membro da família. É o oposto de uma mãe: não nos manda arrumar a cama ou sair do computador "porque já está muito tarde e você tem aula amanhã cedo, menino!"; é o oposto de um pai: não cobra responsabilidade e empenho nos estudos; é o oposto de uma tia que não o vê há anos: não grita no Brasil para que o Papa possa ouvir que "você cresceu muito, meu filho! Tá lindo!"; é também o oposto de uma namorada: não pergunta "por onde você andou ontem às 17h32 quando te liguei cinco vezes? O senhor pode me explicar?". A inspiração simplesmente surge, maravilhando o ambiente. E sempre vai-se embora antes do casal de amigos chatos e ébrios que resolveu ficar para o jantar.
Não, há tempos não a vejo; passam por meus olhos apenas alguns vislumbres, como num dejà-vu. Enquanto isso, continuo tendo surtos de brancos. Ou melhor, de pretos. Dar um branco é errôneo, pois, segundo a física, o branco é a união de todas as cores e o preto é a ausência delas. Por isso tem me dado um preto.
Perdoe-me por esse texto, leitor, foi apenas o desabafo de um escritor fracassado e sem inspiração.

04 julho, 2011

Louva-a-deus subindo o varal

É com o objetivo de complementar um dos mais completos livros do mundo que escrevo esse texto. Vatsyayana é considerado o autor do Kama Sutra, obra que, até hoje, discutem o caráter e o feitio. Seria religiosa, exaltando princípios hindus? Seria a busca e exaltação do kamadeva, um dos três pilares da cultural indiana? Seria o manual da sacanagem? Não interessa. O importante é o anexo que segue.
Anote, portanto: você precisará de um Cadillac (também conhecido como trapézio de mesa, aparelho para a prática do Pilates), treinamento intenso, fôlego, elasticidade e uma equipe médica de prontidão para o caso de algo não dar muito certo. De posse desses elementos poderá realizar uma nova posição: o "Louva-a-deus subindo o varal".
Deixo os elementos figurados e narrativos a quem quiser detalhar a história. Prefiro me amparar em riqueza técnica. Antes de iniciar a prática sexual, é necessário que se monte a posição. Primeiro sobe a mulher no Cadillac. Para tanto, ela deverá sustentar, apenas com os braços, todo o peso do corpo, abrindo as pernas em um ângulo obtuso, permitindo a penetração. 180°, porém, é a recomendação. Ao homem são dadas possíveis variações de movimentos, mas, via de regra, deverá permanecer sobre as hastes de metal do aparelho, realizando infiltrações favorecidas pela gravidade.
Ao leigo pode parecer complicado, mas o treino dará as condições necessárias para a elongação da cópula. Já foram registrados casos de casais com mais de 3 horas de duração na posição. Ao contrário do que ocorre na natureza, no entanto, não há, necessariamente, o procedimento padrão de a fêmea matar e comer o macho após o gozo. O problema que normalmente se registra é a adoção de um médico ortopedista para ambos pelo resto da vida.

27 junho, 2011

Ao silêncio

Fartei-me do nocivo vácuo da voz dos leitores. Cobri-la-ei com o peso voraz das minhas nádegas para que sinta todo o meu sufoco, ó meu observante. Só me consomes, mas não me alimenta! Se quiseres, daqui em diante, o subproduto que por aqui procuras, abre bem a boca e absorve-o direto da fonte. Será meu único esforço.
Não cobro festejos e louros, mas a quitação da dívida aos ignóbeis olhos efêmeros. Fixem-se! Qual é o empecilho de, do teu farto e infindável tempo, retirar minúsculos segundos para reconhecer o mérito ou criticar os entraves de minhas narrações, solilóquios, argumentações? Dá-me teu latim, leitor insensível!
Nesta terra de palmeiras donde voam os urubus, dou-lhe o lixo semanal para a fome fartar. Faz-me o mesmo, com o pútrido comentário de tuas impressões. Se teu silêncio perdurar, juro, terei de calar-me de todo, como tu. Não que te importes; nem que me farei fiel à promessa. Mas as hipérboles do desespero caminham neste sentido. E para onde vão os exageros, vou-me junto, a galope.

20 junho, 2011

Estão todos convidados!

Imagine só, você vai fazer uma festa, uma grande festa, um evento de proporções universais. Para tanto, convidará o mundo para sua casa: pessoas de todos os tipos, de todas as cores, de todos os gostos. Quem puder vir, virá; imagine o mundo todo na sua sala-de-estar e conserte logo o nome, pois "estar" será algo impossível.
Pense que todos virão ao mesmo tempo e tentarão estacionar na sua garagem. Você sabia da festa há anos, podia ter expandido o local, mas não se moveu e só agora, como antes, cabem apenas dois carros populares e apertados. E talvez uns mais dois na calçada da frente. E todos irão ao banheiro simultaneamente, mas há apenas uma pia e um vaso sanitário. Plugar-se-ão à internet e o servidor vai desabar. Ligarão aos que não foram à festa e a linha não dará conta de todas as ligações.
Você chamará o mundo, mas até hoje não sabe dizer obrigado em inglês. Que dirá em chinês ou árabe! Todos estarão ansiosíssimos para conhecer sua casa, o lar de que todos falam tanto na mídia há anos, mas provavelmente não haverá teto se chover, pois as encostas não aguentarão a força das águas. Imagine todos os seus convidados na rua, tentando voltar para casa, cansados, frustrados, mas não conseguindo nem isso, pois a rua da sua casa é estreita e por ela não passarão todos de uma vez. Imagine a vergonha que será tudo isso!
Em toda festa há o penetra, que costuma ser o infortúnio da noite, e o anfitrião, geralmente o organizador de tudo. Não é comum, no entanto, serem a mesma pessoa.
Brasil. 2014. 2016.

13 junho, 2011

12 de junho

Há quem dê chocolate, mas não na mesma proporção da Páscoa. Há quem dê flores, mas não na mesma quantidade que se deixa sobre o túmulo no dia de finados. Em relação aos Estados Unidos, está atrasado quatro meses (o Valentine's Day é em fevereiro). Em relação ao Carnaval, quase a mesma coisa. O dia dos namorados é como alguns namoros que há por aí: ficam sempre em segundo plano.
Namorar pode ser o prelúdio do casamento. Não sei quem disse isso, mas reza uma ideologia de que, para casar, é importante não só ser capaz de conviver com o outro o resto da vida, mas conversar com ele. Mas é mais que isso. O namoro é a fase de testes. Se seu namorado for surdo, você está disposta a gritar para o resto da vida? E se sua namorada tiver AIDS, você está disposto a usar camisinha para o resto da vida? São perguntas a se fazer...
Namorar, para o homem, é conhecer o ciclo menstrual da companheira e, pacientemente, quando ela estiver no período, dar abraços no sofá, quando, na verdade, você queria estar na cama dando-lhe apertos. Namorar, para a mulher, é entender que, ao companheiro, é mais interessante beber cerveja com os amigos do que passar a tarde vendo um filme meloso no cinema, com você. Namorar é conhecer a família que não é sua, ser ameaçado de morte pelo tio que tem um revólver ou pelo pai, que tem dois metros de altura, é gastar dinheiro com besteiras e ouvir reclamações de ciúme.
Mas calma, não termine seu relacionamento por causa do trecho acima. Há inúmeras vantagens no namoro! Como, por exemplo... É... Como por exemplo sua cunhada, que o adora e sempre faz bolos deliciosos para você! Sim, sem dúvida, é a melhor parte!
Feliz dia dos namorados, leitor. E boa sorte.



Mensagem a minha namorada: é tudo mentira, tá? É só pras pessoas acharem graça, viu? Não termine o namoro comigo, ok? Não existe prazer maior na minha vida que passar os dias ao seu lado. Eu te amo!

06 junho, 2011

Secaram a infância!

Estão acabando com a infância, cada vez mais. Como se não bastasse apenas o efeito catastrófico dos videogames japoneses, nossos engenheiros resolveram dar sua contribuição negativa: privaram nossas crianças dos expostos leitores d'água da vizinhança! Sobra a pergunta: com o que os moleques que ainda andam pelas ruas vão se divertir?
Você, com mais de vinte anos (ou menos, se morar em uma cidade do interior), lembra-se de andar pelas calçadas dos vizinhos em busca de diversão. O entretenimento compreendia prejudicar o conhecido, privando-o de tirar o sabonete do rosto no fim do banho. Maldade? Pirraça! Impagável era assistir à mulher sair de toalha na rua, com os olhos ardendo, xingando até o Papa, para reabrir a água. Emoção indescritível.
Leitor d´água, registro, relógio, são os nomes mais comuns. Pra quem não sabe, é aquela caixinha que mede o gasto de água das residências, composta por um cano, mediado por números acelerados pelo abrir e fechar de torneiras e chuveiros e, o principal, com uma chave que, fechada, interrompe a passagem de água para toda a casa. Esse era o alvo das crianças. Mas andam colocando o registro entre o muro. E, como se não bastasse o desaforo, entre a mão que viola e o leitor d'água, há um visor à microondas, um plástico transparente e inviolável. Isso é maldade!
Tema pelas crianças do futuro, pois elas sofrerão. Uma infância sem fechar, ao menos uma vez, um registro é um aposto sem conteúdo, um digressão muda, um vazio na vida dos jovens. Prejudicará o desenvolvimento, meus caros, atenção! Sorte que as campainhas ainda ficam expostas...

30 maio, 2011

Entre nós dois

Venham-me as pernas abertas,
Venha-me o doce libido,
Vai, rasga logo o desejo,
Tira a camisa comigo

A roupa cai, devagar,
À frente move-se o mar
Sussura a voz, toda assim,
"Quero você dentro, em mim"

Mordisca a boca vermelha,
Que eu lambo a auréola do peito
E acendo a eterna fogueira

Se quer, vai ser do seu jeito,
Pronto, se jogue no chão,
Pois desce no corpo a mão

23 maio, 2011

A-Z

É como dizia a Xuxa...

A de AIDS
B de Beribéri
C de Citomegalovírus
D de Dengue
E de Esquizofrenia
F de Fenilcetonúria
G de Granulomatose de Wegener
H de Hemofilia
I de Impetigo

J Jarcho Levin
K Kawasaki
L Leishmaniose
M Mononucleose
N Neurofibromatose
O osteoporose
P Parkinson
Q Queloide

R de Refluxo
S de Silicose
T de Toxoplasmose
U de Urticária
V de Varizes
W de Wolf-Hirschhorn
X o que que é?
É Xantomatose cerebrotendinosa
Z é Zellweger, Zellweger, Zellweger

15 maio, 2011

A dificuldade do ateu

Já repararam que as expressões que usamos são regadas de religião? Os ateus sofrem no mundo, assim como os canhotos: raramente se lembram deles. Privam os canhotos de infraestrutura própria a sua notoriedade; privam os ateus de se comunicar expressando sua fé na inexistência de Deus. Sim, fé. Não há crente maior no mundo que o ateu. Mesmo que sua crença seja baseada na descrença.
Meu Deus! Jesus! Interjeições corriqueiras. Sobra aos ateus o palavrão, mas não é todo ambiente que aceita tal linguajar. Que fazer? Existem sérios princípios a ser zelados aqui. Sem ironia, leitor, falo sério. Esta situação equivale-se a da cria da profissional do sexo que chama o amiguinho de "filho da puta". Não há como não cair em contradição.
Se algo ocorre como o planejado, diz-se "Graças a Deus!"; "Jesus, Maria e José!", diante de ocasiões inesperadas; em sinal de repugnância, "Deus me livre!"; esperançoso, o fiel diz "... se Deus quiser!"; quando alguém espirra, o americano saúda com um "God bless you" e o brasileiro, respeitoso, responde "Amém"; depois do último beijo e abraço, antes da viagem ou de sair de casa para o trabalho, costumam falar "Deus te abençoe". Deve ser por isso que dizem que Deus é onipresente.
Não sobra ao pobre do ateu um modo particular de se comunicar sem trair suas convicções. Por isso, vamos respeitá-los! Vamos respeitar seus princípios, seus valores, suas escolhas. Ah, e, por favor, não se ofenda se algum dia você disser "Vá com Deus" a um ateu e ele não cumprir sua ordem.

09 maio, 2011

Um gesto atrasado a quem merece

Ainda consigo me lembrar do seu primeiro toque (como esquecer?), aquele, logo que nasci. Foi ela quem me pegou nos braços enquanto todos se mostravam exaustos. Ela gritou, torceu, parecia sofrer enquanto eu não saía; quando me viu, demonstrou seu amor sem limites e me deu colo.
Desde então, ela cuida de mim. Quando tinha fome, ela me dava de comer; sede, de beber; solidão, dava-me um abraço confortável. Enquanto não conhecia ninguém (ou não tinha idade para conhecer mais que minha família), era ela quem brincava comigo, contava-me histórias e me fazia acreditar que a vida podia ser fantástica. A minha era.
Um dia comecei a crescer. Já não era tão dependente. Precisava de mais companhias, de novas amizades, de outros ambientes, por isso fui deixando, gradativamente, a mão macia que me alimentava para me nutrir do mundo. Cada vez mais me afastava. Ela sabia que era normal e sofria por isso, mas, sempre sorridente, dizia-me "Vai!".
Houve o dia que saí de casa. Definitivamente. Lembro de ter-lhe dado um abraço comedido, um beijo impessoal e ela, toda chorosa, desejou-me sorte, disse-me que eu estava pronto, que seria um grande homem. Não lhe escutei, como nós, jovens, costumamos fazer. Hoje me arrependo por não lhe ter dado o devido valor e a atenção que ela merecia.
Aproveito a data, então, para deixar gravado que a amo muito e dedicar este texto a ela: minha babá.

02 maio, 2011

"Ninguém sabe explicar o que é o amor" (nem a mentira)

Eu costumava ouvir de tudo, tudo o que, diziam os críticos, prestava. Chico Buarque, Caetano, Tom Zé, Arnaldo Antunes, Beatles, John Mayer, esse era o tipo de música que meu som exalava. E, mais: repudiava qualquer outra forma de expressão e quem a escutava. Mas todo esse bom-senso teve fim.
Antes as rádios informavam e distribuíam bom gosto em suas programações. Hoje elas vivem de vomitar sertanejo. De uns tempos pra cá, comecei a lavar a secreção expelida pelo meu aparelho de som, e meu sistema imunológico acabou não impedindo que um vírus infectasse meu corpo: o meteoro da paixão.
Quando me vi, estava com uma faixa rosa na cabeça, entre milhares e milhares de doentes, como eu, gritando e pulando e cantando todas as músicas. Todas! Eu comecei a chorar quando o vi, ainda não sei por quê. E minha boca acabou bradando uma constatação inconsciente e curiosa: "Lindo!".
Comprei um Santana. Comprei cadernos, mochilas, canecas, estojos, qualquer coisa que me lembrasse ele. Comprei até uma camisinha temática e agora, em vez de gemer ao gozar, canto "vem me amar!!". A doença entrou num estágio obsessivo. Já não sei como me desvencilhar daqueles olhos antagônicos...
Luan Santana, "confesso que estou apaixonado" por você.

24 abril, 2011

Puta revolts!

Perdoe-me, leitor, perdoe-me você que acompanha o blog semanalmente. Hoje não publicarei nenhum texto, nenhuma história, nada. É que estou indignado! Datas, como a Páscoa, fazem-me refletir sobre alguns pontos e acabo em insights sobre minha estupidez. No dia de comer omeletes de cacau e lembrar que o irmão gêmeo de Jesus surgiu para Madalena, três dias após a crucificação do outro, elucidei-me disto:

O coelhinho da Páscoa é um mamífero que bota ovos de chocolate. Como pude acreditar por tanto tempo nesse absurdo?

18 abril, 2011

O futuro

O futuro será tropical, continental, bonito por natureza, ou pelo que restou dela após o desmatamento para aumentar a área de criação de gado. Terá carnaval, datas comemorativas para qualquer futilidade, samba no pé e tiro na laje. Também poderá ser cinza, e, se for, tenha certeza: é queimada ou chuva, ou seja, desabamento de morros enfavelados.
O futuro será honesto. Aparentemente. Senhores bem apessoados dirão "não sei de nada, eu nego, isto é uma calúnia!" e todos, passivamente, acreditarão. O futuro trará consigo coronéis bigodudos entrando na ABL, senhores sem dedo indicando ao povo que candidato deve escolher e muitos outros, como dedos, usando-os todos para tornar privado o que é público. O futuro terá uma bela e extensa Constituição, mas ninguém a cumprirá.
Será assistencialista. Negros, brancos, índios, asiáticos, todos vão se fundir em uma massa heterogênea e dependente. Será estúpido, com professores medíocres e um Estado indiferente. Valerá mais controlar a inflação e o PIB positivo do que as filas dos hospitais.
O futuro será assim, e muito mais. Haverá grandes vexames, muita esperança e poucos resultados, muitos dólares e poucos investimentos, muitos voos e poucos aeroportos, muita cana e nenhuma vantagem econômica em abastecer com um álcool tão caro.
O futuro será assim. Porque o Brasil é o país do futuro.

11 abril, 2011

Aos 18

Aqui, no Brasil, tem-se estipulado uma divisão que, como Jupiá, separa dois estados: a menoridade da maioridade. E temos, como hidrelétrica, os dezoito anos. Quer dizer que, às 00h01 do dia do seu aniversário de 18, você, como num toque de mágica, torna-se um adulto, um homem maduro, responsável, seguro de si e com uma meta clara de vida que o beneficiará e à sociedade? Sabemos que não é bem assim...
A maioridade é apenas um dos pontos dos dezoito anos. Há muitas outras coisas vinculadas aos 18. Podemos dirigir -- mas quem é que nunca pegou o carro do pai antes disso? --, podemos beber -- mas quem é que nunca deu uma sugada no colarinho do chope ou virou o copo enquanto o pai se distraía com uma conversa? --, podemos fumar -- mas quem é que... Bom, esse parêntese tem casos e casos... --, podemos ser presos -- mas e os jovens da Fundação CASA? A maioria procura provar de todas as permissividades da idade, exceto a última. Antigamente, para, ao ser preso, ter tratamentos especiais, formava-se; hoje basta ser um político.
Aos 18 devemos votar. Irrita-me muito que para tirar o título de eleitor leva-se dez minutos, mas para se aposentar é preciso uma vida inteira... Mas, enfim, esse é outro assunto. Aos 18 costuma-se entrar ou cursar o primeiro ano da universidade e iniciar-se no curso escolhido,  na viagem intelectual, na militância de esquerda, nos namoros por interesse, nos debates da UNE, nas orgias com as universitárias -- normalmente com as de Biologia -- e, obviamente, nas bebedeiras homéricas.
No entanto, me preocupa que, aos 18, nós, homens, devemos nos alistar nas Forças Armadas. Graças ao Sr. Olavo Bilac, claro, um nacionalistazinho (pra não dizer outra coisa), poeta incentivador dessa regra estúpida, além dos hinos à Bandeira e à República. É dele a culpa de, aos 18, jovens serem obrigados a ser alistar, e ouvir uma série de militares metidos a macho gritando, e ficar de cueca, às vezes sem, na frente dos ditos machos, e, se tiverem a infelicidade de serem chamados, servirem. Para mim, servir ao exército -- aeronáutica ou marinha -- deveria ser como o seminário: só efetivar seu cadastro após receber o chamado. Algo como:
-- Próximo! Como se chama?
-- João.
-- Conte-me como foi.
-- Estava dormindo e sonhei com o Deodoro da Fonseca dizendo "aliste-se!".
-- Ótimo, você começa na segunda. Próximo!


Obs: Nessa quinta, dia 14, completo 18 anos. Se quiser deixar seus parabéns nos comentários, fique à vontade. Abração!

04 abril, 2011

Ela

Um ponto escuro. Cinza-escuro, muito obrigada, diria. Não o fundo do poço, mas o fim da noite, é certo. Os longos e maciços cabelos negros afirmam isso com a convicção do suicida que pula do penhasco. Assim é ela.
Bela. Mas de forma diferente. Sua beleza é sempre imperceptível no primeiro momento, mas, gozado, há algo ali que atrai e cobra um segundo olhar. Fatal. Ela é especial: basta um mísero gesto, um pequeno esforço, e terá o mundo aos seus pés. Besteira. O mundo é uma tolice, fútil demais. Ela merece mais.
Ela é o paradoxo da perfeição, a ambiguidade da paz, a beleza da guerra, a única que traz de volta a respiração quando me afogo. Igualmente, vê-la é perder o ar. É difícil sobreviver assim.
Ela é sensível, chora por tudo. Ela é apaixonada por gestos e detalhes. Ela não apaga lembranças e se apega a eles enquanto dorme. Ela é o berço da confusão e o fim da serenidade. Nela nasce a poesia, a embriaguês do desejo, o verdadeiro pecado. Indescritível, incompreensível, inconfundível.
Quanto a mim? Sou apenas a doença sem cura que a infectou impiedosamente...

Eu te amo, mané!

28 março, 2011

Mamonas parnasianas

Garota, teus cabelos gozam de estilo próprio
Teus aparatos físicos desenham-se como um violão
Meu doce vulgarmente conhecido como "beijinho" ou "cocada"
Estás a me alucinar

Minha Brasília de cor amarelada
Abre as portas a ti
A fim de nos amarmos
Desnudos no litoral paulista

Pois tu, queridíssima
Deixou-me em êxtase
Já não enfrento a solidão
Tu és fantástica, minha salvação

La musique est très bonne
Oxente, ai, ai, ai! -- interjeições baianas
Não é da vontade da dama ter-me como esposo
(Novas interjeições baianas)
Em minha Brasília de cor amarelada equipada com calotas dos pampas
Ela se recusa a entrar
(Mais interjeições baianas)

Feijão e charque,
A miserável não deseja se entregar
Todavia, ela é bela
Extremamente bela
Très, très beau

Tu me alucinas
Oui, non
Meu doce vulgarmente conhecido como "beijinho" ou "cocada"

La musique est très bonne
Oxente Paraguai - interjeição binacional
À fronteira do Brasil ela não quis se dirigir
(Nova interjeição binacional)
Comprei-lhe um tênis e uma calça falsificados
E ela não as aceitou
(Mais uma interjeição binacional)

Já não sei de quais métodos me valho
Para tê-la em meus braços
Pois ela é bela
Extremamente bela
Très, très beau

21 março, 2011

Sem pelos; sem pena

Vem crescendo o número de homens que se depilam. Para o delírio feminino. Não é uma questão estética, visto que, ainda hoje, encontram-se fêmeas fanáticas por machos peludos. Trata-se de vingança. O êxtase de uma feminista é fazer sofrer um homem: e, para isso, nada melhor que a depilação.
Dá pra ver a satisfação nos olhos de uma depiladora ao ter, em seu salão, um homem. Quanto mais primitivo for, mais feliz ela fica. Convidativa, aparentemente inofensiva, a mulher chama o primata, que fica só de sunga e deita-se, submisso.
Não é este ou aquele fator, mas a situação que traz prazer à mulher. O primata está deitado, inferior e completamente complacente com o que está para acontecer. A sensação é de poder e a cera, nesse caso, é a espada da depiladora. E, meu amigo, esta mulher desfere golpes e manuseia sua arma como ninguém. A dor intensa é o mínimo que ela proporciona.
Começa o ataque. Não é a mão da depiladora que puxa a cera; é a de todas as mulheres da história, em sincronia. Não é a dor de um homem exclamada em seus gritos; é a vingança por todos os séculos de sofrimento a que estiveram sujeitas as fêmeas. Cada pelo retirado equivale a um sorriso. E um, um pelo encravado é a apoteose.
Sádica, a depiladora se ri, enquanto o homem chora. Quando pensa que acabou, lembra-se que tem outra perna, o peito, as costas... Lembra-se que, quando o pelo crescer, ele voltará ao salão. Lembra-se que anda extremamente metrossexual e masoquista ao extremo. Apanhara da mulher na cama na última noite, levara um esporro da chefe no trabalho e agora isso! É triste -- e doída -- a vida do homem moderno.
Já acostumada aos tapas seculares, a mulher não dá tanta atenção à depilação. A não ser que seja em um homem, claro. Mas isso é só o começo! Percebe-se que elas só pararão quando conseguirem passar cera no nosso saco. E, garanto, elas vão puxar sem dó.

14 março, 2011

Tarado por blusas

Sua tara era por blusas. Leia  tara num sentido amplo, como vício e atração sexual. Há quem só transe com meia; ele só fazia com uma blusa. Tirava durante o ato, mas só no momento certo: achava muito sexy o deslizar do zíper. Fugindo ao aspecto sexual e generalizando, voltamos ao começo: amava blusas.
Tinha-as de todas as formas, cores, modelos. "Para cada frio, uma blusa", dizia. Uma verdade contestável, já que saía pelas ruas até no calor com elas -- abertas.
Em sua casa havia três aparelhos de ar condicionado em cada sala. Não que sentisse calor ou gostasse do frio, mas precisava do clima adequado para usar suas blusas. Às vezes tremia, é verdade, mas sorria sempre. Não seria exagero dizer que, ao fechar uma blusa em seu corpo, abria um sorriso em seu rosto. Era um tarado!
De uns tempos pra cá, no entanto, algo mudou em sua vida. Não, não abandonou as blusas, mas desistiu da diversificação. Sem uma explicação lógica ou uma aparente causa, passou a usar somente uma blusa: azul, desgastada pelas lavagens, com bolsos laterais e capuz. Era fraca contra o frio intenso e pesada contra o sol. Os picos de suor e tremeliques eram constantes.
A blusa lhe privou de suas viagens e de sua casa, das ruas quentes, do mundo. Instantaneamente, o homem, sempre bem situado, perdeu seu lugar ao sol. Ou melhor, desistiu dele para não suar. De seu lugar à nevasca também, para não morrer de hipotermia. Uma blusa, uma simples blusa, apagou o espaço daquele homem no universo. Mas ele não a tirava: era sua verdadeira camada lipídica.
Seu fim não interessa. Basta relembrar e reafirmar que aquele homem era um tarado. Um verdadeiro tarado!

07 março, 2011

Reflexões de quarta-feira de cinzas

Ah!, o Carnaval... Mais um se foi e eu, novamente, fiz a promessa utópica de que nunca mais assistirei aos desfiles.
Sim, a mesmice de sempre passou pelas avenidas de São Paulo e Rio, trazidas, obviamente, pela comunidade -- na única data que pode descer do morro com orgulho de si mesma -- e seus respectivos presidentes bicheiros e/ou traficantes. Faça o teste: chame, em alto e bom som, em algum período que não seja este, alguém pertencente a alguma comunidade e tente confirmar sua origem. Essa pessoa abaixará a cabeça e tentará ocultar a face. Assim:
-- Hei! Você mesmo! É de Nilópolis?
--Fala baixo, pô!
Os sambas sempre englobam temas ou palavras africanas, além de acrescentar raça, miscigenação, caravelas, imigração, história e pandeiro. Os enredos são sobre acontecimentos históricos, alguma data ou personalidade ou qualquer futilidade. Se algo foge disso, a escola se destaca e é campeã ou ganha poucos pontos e cai para o Grupo de Acesso.
As mulheres compensam todos os aspectos negativos do carnaval. Todas exuberantes, sejam celebridades, anônimas ou beldades da comunidade, e polêmicas; causam fascínio ao turista, notícias aos repórteres e discussão entre os conservadores, que conseguem se incomodar com tapas-sexo de três centímetros. Os destaques das alegorias, no entanto, passam despercebidos, mesmo estando a mais de dez metros de altura. Isso porque todos têm mais de quarenta anos, enfeitam-se com um ridículo e gigantesco rabo de pavão, vêm agarradinhos a duas hastes de metal e gostam de um... -- faça a rima que quiser, leitor!
Os julgamentos são comprados -- os bicheiros negociam o DEZ!!! pela vida do jurado que, quase imediatamente, aceita as condições impostas -- e, por cerca de duas horas, intercala notas máximas e exaltações às mães de quem não as deu.
E o pior de tudo isso é que eu, apesar de ter ciência da situação, passo as madrugadas carnavalescas grudado na TV e na minha caneca de café. É complicado... Se eu tivesse um pingo de sensatez, iria à Bahia e peregrinaria naqueles arrastões de adestração humana, atrás de um trio elétrico qualquer.


NOTA: Esse texto foi escrito no ano passado, após o término do Carnaval. Coloquei-o aqui agora e antes da quarta-feira de cinzas porque achei que era conveniente e, de forma mais resumida, porque faço o que quiser no meu blog. Obrigado

28 fevereiro, 2011

Dicionário

Dicionários são formais e incoerentes com a nossa realidade: o povo iletrado ou parcialmente letrado não o entende. Devemos, então, sintetizá-lo em palavras úteis e simplificá-lo a significados compreensíveis. Vamos lá:

Sexo - O meu e o seu. Quando diferentes e misturados, geram um outro. Variações: fazer amor, trepada, rala e rola, tchaca-tchaca na mutchaca

Peitos - Aquilo que a mulher tem acima e o homem quer pegar. Causa de tapas.

Vagina - Aquilo que a mulher tem embaixo e o homem quer desbravar. Causa de estupros.

Estupros - Contrário de lábia.

Lábia - Dizer mentiras como sendo verdades. Em suma: tudo o que um bom advogado faz e o Pinóquio não.

Xuréola - Não é uma variante de vagina, mas serve de brincadeira.

Brincadeira - Quando feita entre crianças, causa machucados. Quando entre jovens e adultos, ganha caráter sexual (vide "sexo") e envolve lábia. Pode resultar em estupro.

Machucado - Bata a cabeça na parede e depois conversamos...

Conversa - O que, ultimamente, só se faz pelo MSN.

MSN - Programa de computador contendo nicotina. Por isso vicia.

Vício - Obsessão por algo. Normalmente algo idiota, que mata e você sabe, mas continua consumindo mesmo assim; característica de gente idiota.

Idiota - Algo inato à 1ª pessoa do singular

21 fevereiro, 2011

Dois idiotas

Não existe nada mais irritante do que uma mulher que dá sua risadinha irônica e sedutora para, depois, dizer "Idiota...". Há quem veja beleza nisso. Não há. A risada é o elemento eufemístico; a fala é o golpe brutal. Você é um idiota!
Mas, simplificando, ou não, talvez nos compliquemos mais, o que ela quer dizer com isso? O que, afinal, é um idiota?
Idiota deriva de idiotice (embora exista a possibilidade dessa última afirmação ser inverossímil), portanto o idiota é quem faz idiotices. E o que é idiotice? Talvez esse seja o ponto principal. A definição, ou melhor, as definições são muito simples; dão, no entanto, margem a várias interpretações. Aqui mora o problema.
Idiotice é fazer merda, mas no sentido conotativo da palavra. O que você faz no banheiro diariamente o caracteriza como ser humano, não como idiota. Digamos de outra maneira... Idiotice é fazer besteira, mas não da forma como os adolescentes pensam. Eles, quando o fazem, carregam a ideia de palavrões e sexualidade. fazer sexo não é idiotice, a menos que seja com uma puta.
Há uma série de exemplos de idiotas e suas idiotices que poderíamos aqui apresentar, mas que não auxiliariam na conclusão a que procuramos. Esta situação é como a tabela periódica: todos sabem citar alguns elementos, porém ninguém, à exceção dos químicos, sabe listar suas especificidades.
Claramente, criamos um problema e não o resolvemos. O que sempre procurou ser dito, no entanto, desde o começo e que só ganhou espaço agora, no fim, é que existem, neste cenário desenhado, dois grandes idiotas: quem leu e quem escreveu essa idiotice.

14 fevereiro, 2011

O futuro do Brasil

-- Socialismo! -- bradou a mulher.
-- Ditadura! -- impôs o homem.
-- Por que a gente não continua tudo como tá mesmo? -- propôs o segundo.
Numa reunião a portas fechadas, sentavam-se esses três em torno de uma extensa e, na ocasião, desnecessária mesa redonda, a fim de decidir por qual futuro seguiria o Brasil. Cada um tinha suas convicções, como se viu, e apresentavam argumentos válidos (às vezes nem tanto...), justificando seu ponto de vista:
-- O povo sofre no Nordeste. Há fome, sede, desemprego. No Sudeste, no entanto, com exceção das chuvas, a vida caminha bem. Temos que acabar com essas disparidades e distribuir melhor nossa renda. Vamos implantar logo o socialismo e acabar com esse problema!
-- Bobagem, isso é utopia. Vamos de ditadura que combina mais! O povo precisa de ordem, de disciplina, de pulso firme, de...
-- Liberdade? Talvez tenha se esquecido desse detalhe... Manter o que temos é o melhor a se fazer.
Continuou o impasse. Os três fecharam-se, a insatisfação era clara nos olhares e nos braços cruzados. A mulher tentou, novamente:
-- Marx, sim, era um grande homem!
-- Vê-se pela admirável situação de Cuba! Marx não serve de modelo! Hitler era um grande homem!
-- Algo me diz que os judeus discordam...
Nada resolvia-se. Cansado de tanta ladainha, o último homem, que pregava a permanência do presente no futuro, soltou essa:
-- Bom mesmo era quando tínhamos o Lula. O povo gostava, os políticos gostavam e os únicos insatisfeitos eram os intelectuais de direita e os leitores de VEJA...

07 fevereiro, 2011

Uma exceção

Eu costumava ser frio. Vivia eternizado no inverno: as folhas sempre caídas ao chão, a neve sempre despencando do céu, o eterno cinza, nenhuma vida, nenhum movimento. O sol, quando aparecia, vinha tímido por entre o mar de nuvens. As chuvas inundavam os dias e, apesar da umidade frequente, meus lábios estavam sempre secos. Eles são, de certa forma, o reflexo do que se sente. E quando a água é turva, o reflexo é inexistente.
O amor sempre me foi uma estupidez. Não havia, na minha visão, como um sentimento alterar decisões, ações, valores, pensamentos, pessoas. A guerra sempre existiu e sempre existirá, e não seria o pobre e ínfimo amor das pessoas que mudaria esse fato. Ele era-me uma bela falsidade construída, um projeto ilusório de felicidade, um claro exemplo da bestialidade, o fim da razão. O amor era-me uma chaga.
Da mesma forma, julgava todos os relacionamentos findáveis e imbecis. Qual a razão de se investir em algo que, cedo ou tarde, acabará? Para que se desgastar, gastar, iludir-se, diluir-se, embregar-se, cuspir mentiras para consolar a alma alheia, perder-se em devaneios, procurar-se em uma sala escura, caçar assuntos, criar histórias, se não há garantia nenhuma da eternidade? Tudo finda, a começar pela vida! Vale à pena?
Vale. Minhas estruturas foram completamente desalicerçadas de uns tempos para cá. Com você tudo o que foi dito há pouco, tudo o que acreditava, perdeu o sentido claro e tornou-se, por mais contraditório que pareça, colorido e belo.
Por você eu abro uma exceção e me permito amar de forma completa, inconsequente, imprevisível. Renovo-me todos os dias para ser sempre aquele que você deseja.
Mas é por você. Só por você.


E é claro que é pra você o texto, mané. 1/2 ano! Eu te amo!

31 janeiro, 2011

O nariz

-- Foi difícil... É só o que digo...
Mas nós diremos mais. Difícil é um eufemismo para um situação assombrosa: o parto daquele rapaz. Obstetras de todos os cantos do mundo ainda discutem, em busca de uma resposta plausível, sobre como um nariz tão avantajado passou por um buraco tão (elástico, porém) comprimido. A última parte do bebê a sair de dentro de sua mãe foi sua protuberância nasal. O pai, a que tudo observava, confundiu os órgãos e achou, todo contente, por alguns instantes, que dera origem a um jegue. Depois foi corrigido pelos médicos: era bem dotado, mas de capacidade respiratória, não sexual.
-- Mas eu cresci. E meu nariz também. E meus problemas, meu amigo, mais ainda...
O menino, durante toda a infância e adolescência, sofreu com as brincadeiras dos amigos. Compararam-no a um tucano, o que era, digamos, um desrespeito com a ave. Disseram-no que, ao nascer, os médicos mediram o seu corpo em centímetros e o nariz em quilômetros. Afirmaram que ele tinha cara de pau e que seu espirro era uma ejaculação. Muitos nominariam essa situação como sendo bullying. Nós, porém, devemos alertar que tudo o que falavam era apenas a verdade.
-- E eu fui perdendo meus amigos, com o tempo...
O que é bastante compreensível. Estar ao lado do rapaz equivalia às condições respiratórias do topo do Everest. Ele consumia ar por si e mais quatro. Alguns tentaram manter uma relação de parceria, mas foi impossível. Não são todos que conseguem comprar cilindros de oxigênio com frequência. Abandonado pelas pessoas, tentou arranjar um emprego como despoluidor de ar em uma indústria: não adiantou, pois os empregados saíam exaustos e sufocados no fim do expediente.
-- É, essa é minha vida... Hoje eu faço uns bicos num circo. De qualquer forma, obrigado por meu ouvir. Foi boa nossa conversa.
E foi-se embora. De onde saiu, continuava deitado um enfermo em coma, confortável e seguramente protegido por sua máscara de oxigênio.


Esse texto é dedicado ao meu grande amigo Patrick Schocair. Sua naba é grande, mas eu te amo, brow!

24 janeiro, 2011

A vida é simples

A vida é simples. Primeiro se nasce. Para isso, é necessário, antes, que um casal copule ou uma mulher faça uma inseminação artificial, que haja uma gestação, que haja um acompanhamento periódico do processo germinativo, que se compre fraldas, roupas, e se faça um chá de bebê, que, no momento do parto, haja um bom obstetra e boas ferramentas, todas esterilizadas, ou força na vagina e no períneo, muita força, para, após alguns cortes ou alguns empurrões, ver a luz do mundo. Ou melhor, a da luminária do centro cirúrgico.
Depois se cresce. Crescer é importante. Os ossos e músculos e todo o corpo, num movimento inconstante, principalmente durante a adolescência, vão se desenvolvendo. Dói, às vezes. O cérebro pode ou não acompanhar essa fase de expansão; é preferível e aconselhável que acompanhe. Surgem os relacionamentos, as amizades, as intrigas, os estudos, as dúvidas, o primeiro emprego, a primeira demissão, o segundo emprego, a segunda demissão, o desemprego constante, a fome, a ressurreição, a nova demissão, o casamento, as brigas entre recém-casados, os filhos, a separação, o segundo casamento, a mulher do primeiro casamento pedindo pensão aos filhos, as dívidas, a crise da meia idade, as rugas, a bengala, o Parkinson, os escorregões no azulejo do banheiro, a clavícula quebrada, uma cirurgia para consertar os ossos, uma cirurgia para consertar as artérias, uma cirurgia para consertar o ego, os resfriados que não vão embora, os dias de indisposição, as horas intermináveis sob o cobertor, as visitas dos familiares (que parecem dar um último aperto de mão antes de se preocuparem com a herança que lhes cabe), o sono eterno.
Depois basta morrer. Morrer é certo, apesar de não nos parecer. O corpo desce ao solo e aduba o cemitério, para que cresça mato na terra. O morto é velado, enterrado, chorado e rezado. Vive por até uma semana na memória dos mais afastados e por anos na cabeça da viúva, até que ela encontre alguém que satisfaça seu ventre fúnebre. Eis, então, o eterno descanso de que tanto se fala: ninguém mais falando sobre você.
Simples a vida, não?

17 janeiro, 2011

Mini-tradutor de carinhas de MSN (volume 2)

Depois do sucesso da primeira edição mini-tradutor, o Hipérboles volta com mais traduções para você que usa o programa, mas nunca sabe o que significam as tais carinhas de MSN. A nova edição traz emoticons mais complexos, como você poderá ver a seguir. É o fim de seus problemas de comunicação, amigo, isso já podemos afirmar. Com vocês, o volume 2:





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:B








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Essa idiotice contou, novamente, com o auxílio da especialista em linguagens digitais, Juliana Pedrini, que já esteve em outros textos deste blog. Brigadão, mané!

10 janeiro, 2011

Eu quero mais!

Eu quero mais. Eu quero mais! Eu quero mais um abraço, um outro beijo, um pouco mais de vontade. Eu quero mais, mais desejo, mais prazer, mais línguas sobre o meu corpo. Eu quero mais mordidas, mais arranhões, mais unha, mais olhares, mais ação. Eu quero um pouco mais!
Eu quero mais tardes para que as noites cheguem. Eu quero mais poesia e mais grunhidos. Eu quero ser arrastado por uma voz quente, ser conduzido por uma música que toca ao fundo, ser hipnotizado por um cheiro intenso, ser atraído por um dedo que, com um gesto sutil, mas claro, me chama, e, por fim, ser tomado por molas e acolchoados, lençóis e travesseiros.
Eu quero mais! Eu preciso de mais! Eu quero que queiram; "um galo sozinho não tece uma manhã". Vamos, grite, vamos, exclame, vamos, eu quero ouvi-la, vamos, o dia finda, vamos, o tempo é curto! Venha, deixe-me provar  daquilo que ninguém conhece; venha, eu seguro o relógio e trago a eternidade, basta pedir; venha, mas venha rápido e venha sempre e venha mais!
Mais. Mais! Um pouquinho mais. Muito mais! Eu não sou alguém interessante, nem quero ser. Eu sou mais, você sabe. Você sabe? Eu sou mais! Eu sou aquele que passa rápido, mas sempre fica. Eu sou o indesejado que todos convidam. Eu sou inesquecível, você sabe. Você sabe? Eu sou muito mais!
Pode entrar, fique a vontade. Deixe-me fazer o mesmo. Eu peço, eu suplico, um pouco mais. Dê-me o presente da carne, o pecado, a profanação, o gozo. Dê-me tudo aquilo que você pode dar. Eu vou rolar no chão e rir de tudo, ao final. Eu vou rolá-la sobre mim com papos lúgubres e fúteis, mas sem enrolá-la, antes de uma segunda dose. Sim, uma segunda, porque eu quero mais.
Seu fogo eterno e inextinguível, querida, não é nada, mas será de extrema utilidade. É com ele que acenderemos a fogueira, portanto venha, traga mais lenha, muito mais, e encoste-se em mim!
Vai ser uma delícia.

03 janeiro, 2011

2011 dá as caras

Olá. Você e mais alguns bilhões de cidadãos cometeram um estupro brutal em mim e na década que chega. Sim, eu sou 2011. Sim, começou a segunda década do século. Sim, todos "entraram com o pé direito" em nós. Sim, doeu.
Apesar desse desrespeito, estou aqui para trazer as boas novas (e as más também) desse novo período. Não, isso não é astrologia, magia ou achismo. É a verdade. Vamos aos fatos.
O mundo não vai acabar em 2012, fique tranquilo (ou não). Mudam-se os profetas e as datas para o fim, mas as falhas são sempre as mesmas. Dilma vai renunciar em 2013, pois não aguentará as pressões relativas aos atrasos para a copa. A copa não vai acontecer em 2014. As Olimpíadas sim, mas apenas graças ao financiamento do Comando Vermelho, que voltará a reinar no Rio.
Justin Bieber assumirá a homossexualidade e o namoro com Ricky Martin. Os integrantes da banda Restart virarão halterofilistas. Hebe não morrerá. Oscar Niemeyer não morrerá. O ex-vice-presidente José Alencar não morrerá. Um estudo da Universidade de Stanford provará que esses três ícones são, na verdade, imortais. Bin Laden será encontrado num túnel no Afeganistão com Elvis Presley e ambos serão enforcados: o primeiro pelo governo dos EUA e o segundo por fãs inconformados com a morte mentirosa alimentada por tantos anos.
A bomba nuclear iraniana tomará o caminho errado, atingirá Brasília e erradicará toda a classe política do Brasil. O estado da Bahia se emancipará do país e, através da exportação de axé, será a nova potência mundial. A China será aliada dos baianos e se tornará a maior fabricante de trio-elétricos do mundo.
As redes sociais ganharão um sentido literal graças à influência da potência nordestina: cada vez mais pessoas dormirão e se relacionarão em redes. Apesar da aparente pacificidade desse novo período, a paz mundial não será obtida: isso é utopia de gente idiota. Enquanto houver Israel e Palestina, haverá guerra, seja pelos limites territoriais ou por um mero pirulito.
A vida não mudará tanto, só ficará mais quente. O aquecimento global será (já é) uma ótima desculpa para tomar uma cerveja gelada todos os dias. Aproveite. Seja bem-vindo ao futuro, estuprador!