29 novembro, 2010

Saudade

Não há nada pior a dois amantes. Imponham-lhes dificuldades, defeitos, proibições, restrições, enfim, problemas a que todos os casais estão sujeitos: o amor dá cabo de todos. Mas a saudade, leitor, essa parece invencível, eterna, mortal. É isso o que eles sentem. É isso que ela é.
A barreira espacial se ergueu entre eles. A temporal também. Ele viajaria pelo período de nove dias a fim de definir o próximo passo de seu futuro. Caminhou sem ela nessa empreitada, deixando à dama um buquê de saudade, tristeza e dúvida. O que haveria para eles, afinal? O fim? O recomeço?
Novos mundos engolem novos homens. Ele foi engolido pela cidade grande, pelas novidades, pelo que cativa de tão impressionante. O progresso seduz mais, às vezes, do que uma bela mulher. O futuro no presente é a ambição de todo visionário. Mas há um momento em que esse espaço cinza desencanta e os passos são atraídos pela voz doce daquela que ficou. Foi nesse momento que ele chegou a mais sábia das indagações: "De que me adianta abraçar o mundo se tudo o que mais quero é abraçar quem eu tanto amo?"
Por isso ele volta hoje. Ele volta para tê-la em seus braços novamente, para beijá-la como se não houvesse tempo para cerimônias, para beliscá-la com uma mordida e rezar a missa sagrada do amor: eu a amo! Veja, se a saudade é o percalço, o reencontro faz de um dia simples o mais sublime de todos.


Tô chegando, mané. Eu te amo muito!

15 novembro, 2010

As indecisões em um quarto branco

Eu disse "Vamos embora?" e ela "Pra onde?". Respondi "Não sei, seus passos sabem?" e ela "Não, mas a porta só dá em um lugar."
-- Mesmo? Onde?
-- Para o infinito. Ou seja, aonde você quiser ir.
-- E aonde você quer ir?
-- Não sei, suas pernas sabem?
Continuamos na mesma situação, estagnados na sala de uma só porta que dava em todos os lugares de uma só forma. Encostamo-nos a uma das quatro paredes brancas que cercavam o local e pensamos.
-- Em que você está pensando?
-- Em fugir.
-- Pra onde?
-- Não sei. Seu pensamento sabe?
-- Não, ele só voa. E passa. Mas de nada sabe.
-- Entendo.
E então os limites físicos entraram no campo psicológico, e, se antes não andavam por falta de destino, agora se acomodavam por falta de vontade. E continuaram.
-- Que som foi esse?
-- Culpa da minha boca.
-- E o que ela faz?
-- Não sei, sua língua sabe?
-- Não. Ela só lambe e se enrola a sua. Nada mais.
E se calaram.

Obs: Não, leitor, eu não fumei...

08 novembro, 2010

Passadismo

Eu caio. Desço no submundo dos escrúpulos. Na queda me passa a cinza fumaça, o carbono branco, negro, vermelho, amarelo, que me tocam a pele e me contraem os poros. Arrepiam-se os pelos quando, por fim, paro de cair ao chegar a um lago frio, não pela temperatura, mas pela ausência de peixes, plantas, água pura... Que mundo é esse?
Que mundo é esse? Que mundo é esse que não escolhi ocupar? Que mundo é esse que me foi dado de bandeja no presente, como sendo um presente? Os homens acham que é o deles, o autêntico mundo civilizado. Se o é, preferiria estar no das bestas. Que civilidade há, afinal, em morrer sufocado com tanto ar disponível, em esquecer os passos para se viver sobre rodas, em assistir à explosão de uma bomba como se fosse fogos de artifício?
E caminhando por entre prédios, pulando de edifício em edifício, vejo que fizeram as ruas e se esqueceram das calçadas: compre um carro ou sente-se em frente à TV. Mais: arrancaram os troncos, esmigalharam as folhas, concretaram as raízes. E plantaram-nas de volta? Vi uma cidade sem mudas que, por sua ausência, gritava ininterruptamente. É sempre assim: com mudas, calam-se; sem mudas, as máquinas fazem sua sinfonia.
Avante, ludistas! Vamos, façam seus trabalhos, cumpram seus papéis. A história precisa mais uma vez de vocês! É preferível a vida sádia na ignorância à morte nas trevas da luz. Dêem-me um poço que eu pulo nas profundas águas! Dêem-me um túnel! Mas se a luz ao fundo for a de um trem vindo em minha direção, fecho os olhos. Odeio todo esse futurismo!

01 novembro, 2010

Questão do ENEM

Analisando friamente os leitores do meu blog, percebi que há muitos (hipérbole) jovens entre eles. É bem provável, portanto, que estes meus leitores façam a prova do ENEM nos próximos dias 6 e 7 de Novembro. Pensando nisso, no bem estar e em consideração a essas queridas pessoas (hipérbole? Não, isso é mentira mesmo...), criei esse post para auxiliá-los em seus estudos, disponibilizando um modelo de questão que, não há dúvidas, estará na prova.

MODELO DE QUESTÃO (Física)
 Mire a imagem abaixo:
O Helicóptero ao lado transita por uma região de difícil acesso ao homem. Imagine que ele se encaminha à uma catarata de 700 metros de altura, com V = 90km/h. No topo da queda d'água, preso entre pedras, está uma caixa de metal de 180kg, cujo material interessa ao dono da aeronave. Supondo que no helicóptero há uma corda, desprezando a resistência do ar e considerando g = 10m/s², podemos concluir que o nome do piloto é:
a) Alfredo
b) Bussunda
c) Humberto
d) Não sei o nome, mas deve ser o mesmo cara que participou das filmagens de Tropa de Elite II
e) Chuck Norris

Não se preocupe com o ENEM, caro leitor. É bem provável que haja fraude ou erro na prova, de qualquer maneira...