26 setembro, 2011

O último exagero

Gosto de ciclos. Gosto de iniciá-los e findá-los. É bom, instiga, dá à memória o conteúdo a recordar e orgulho, se houver, à consciência. O 1,99 - Hipérboles do Torres é mais um dos meus ciclos, um dos mais produtivos, um dos mais interessantes, um dos que mais me trouxeram frutos. E, hoje, é o ciclo que se encerra. Após mais de dois anos  e de 108 textos hiperbólicos, é hora de terminá-lo.
Encarem isso como um livro: houve a página inicial e, agora, há a despedida. Foram mais de 12 mil visualizações, de brasileiros, é verdade, mas também originárias dos EUA, Portugal, Alemanha, dentre tantos outros. Até de Burundi houve acesso! Isso sem contar as centenas de comentários. A cada semana, uma história diferente. Houve quem se emocionasse com textos românticos, quem se perguntasse o porquê de certas filosofias, quem se divertisse com ateísmos e os que se revoltassem também, é claro. Hipérboles, em suma.
Não sei ao certo se havia alguém que me lia toda segunda-feira. Se sim, não se deprima. Continuo na ativa. Seja no Twitter ou no Facebook, além de participações em outros blogs... Vocês vão me ouvir por aí... Apenas esse canal, esse blog, finda hoje. Mas, a qualquer momento, textos antigos poderão ser acessados, fiquem tranquilos.
No mais, não há mais nada. Muitíssimo obrigado a todos os que por aqui passaram, mesmo que rapidinho, mesmo que contrariados, mesmo que sem limpar o pé no tapete da entrada. Só não vou dizer que "foram vocês que fizeram isso acontecer" porque aí já é forçar demais a barra!
Por fim, o maior exagero é o único que nunca falo: dizer que algo é pra sempre.

19 setembro, 2011

Meus galhos

Quantos de vocês têm a quem recorrer em qualquer situação? E quantos de vocês têm uma casa pra chamar de sua mesmo que não possua as chaves da porta? Melhor: quantos de vocês têm alguém pra chamar de irmão ou irmã sem ter compartilhado do mesmo útero ou do mesmo esperma?
Ora, faz bem! A amizade é uma mãe de tetas fartas: nutra-se dela, sugue a felicidade, chupe, construa o elo! Amizade é isso mesmo! É dançar Volare em cubículos. É fazer de uma rua um soberbo império. É ficar bêbado com um gole de álcool. É satirizar quem não entendeu a piada. É ser a própria piada. É pura miscigenação. É criticar narizes, peitos, orelhas e todos os outros defeitos possíveis e enxergar no outro uma amostra da perfeição. É soltar os palavrões mais infundados e dizer "eu te amo, amigo!" da maneira mais sincera.
Amigos chegam aos contêineres. Bons amigos, verdadeiros, infindáveis, chegam como telegramas: raramente, discretamente e, quase sem querer, acabam guardados, dobradinhos, para que não se percam. Bons amigos são os que tomam caminhos opostos aos nossos, mas que, quando acabam se cruzando, eles continuam com a velha conversa gostosa, a mesma intimidade e os mais belos sorrisos.
É nesses galhos que me agarro nos pulos mais duvidosos. Não são os troncos mais chamativos, é verdade: são tortos, rígidos, até um pouco asquerosos. Mas eu também não sou o macaco mais interessante dessa selva, então... Pulo! Pois neles sei que posso confiar e que, se cair, o galho despenca junto.

Amo vocês, amigos

12 setembro, 2011

Dote

Em tempos de crise, hábitos antigos são revistos e readaptados. Num passado não muito distante, os pais das meninas pagavam à família dos rapazes para que se casassem com elas. Apenas durante esse período o casamento era lucrativo para o homem. Refletindo sobre isso e pensando adiante, resolvi buscar na história esse costume perdido: o dote. Não quero o casamento, só o dinheiro. Para tanto, apresento-lhes, interessadas e interesseiras, meus atributos e, para não ser desonesto, meus senãos. Pois então, cá estão.
Dos positivos: carinhoso; fofo; educado; preocupo-me com meus amores; sei falar sobre tudo; autoestima elevada; gosto de animais; danço com maestria; traços faciais desenhados; braços esculturais; sou sensível; não me rebaixo por nada; trepo bem; prezo pelo prazer da minha companheira; se preciso, minto rapidamente.
Dos negativos: carinhoso beirando o brega; fofo, eufemismo para o descontrole na hora de comer; educado em escola pública; meus amores normalmente são livros e filmes; falo muito pouco; autoestima chegando em Narciso; sim, gosto de pets, mas não me apareça com um gato na frente!; danço bem o Rebolation; traços faciais desenhados por Picasso; braços esculturais, fruto dos gessos que usei; tão sensível que ando rebolando; não me rebaixo, mas adoro baixaria; trepo bem em árvores; prazer por prazer, melhor comprar um vibrador; minto ainda mais rapidamente quando não preciso.
Noves fora, zero!

05 setembro, 2011

O paraíso é aqui

Quando os portugueses descobriram o Brasil, que ainda não era Brasil, não era um país, mas já era perdido, disseram encontrar aqui o paraíso, o verdadeiro Éden. Se os lusitanos tiverem razão, há discrepância em relação à história oficial de Deus que, pelas mãos dos homens, assinou a Bíblia e assassinou os que dela discordaram.
Se a versão d'além-mar estiver correta, deve-se fazer correções. A primeira, mais óbvia, é a árvore proibida: não seria uma macieira. Seria um cajueiro ou um pau-brasil, mas o mais certo é que seria uma bananeira. Nesse caso, comer uma banana poderia ser visto com um pecado, devido às obscenidades associadas, e a cobra, essa sim, faria todo o sentido.
O Éden brasileiro seria um paraíso fiscal. E Deus, no gênesis, antes de criar o céu, a terra, o homem e blá, blá, blá, criaria a burocracia, que é o importante. Adão, o primeiro homem, em vez de dar nomes aos animais, usaria sua criatividade para nomear as operações policiais com esmero. Satiagraha seria o apogeu!
Por fim, levando em conta o próprio documento divino, pode-se concluir que Deus é brasileiro e também o Éden. O que seria a feitura de Eva a partir de uma costela senão nosso tão conhecido "jeitinho"?

29 agosto, 2011

O homem grávido

Juro. Juro que me precavi! Tomei remédios específicos, usei bloqueios, fiz o que estava ao meu alcance. Mas aconteceu... Ainda não sei como, mas aconteceu. Fui num médico após alguns enjoos e sensações esquisitas; após um rápido e conclusivo exame, ele, com um perfil indescritível (mesclava espanto à vontade de rir), apertou minha mão, parabenizando-me, e confirmou: "Você está grávido!"
Estou de três meses e já comecei a organizar tudo. É importante estar bem preparado para quando chegar a hora. Comecei a pesquisar carrinhos e berços, comprar alguns pacotes de fraldas, quando as encontro em promoção, e leite, é claro, muito leite. Esse vai ser um dos meus principais gastos, com certeza. Uma coisa é certa, não vou fazer teste de DNA: eu já sei quem é o pai.
Minha barriga mostrou algumas mudanças: começou a crescer. Por enquanto vou manter essa criança em sigilo e, se me perguntarem, digo que andei tomando cervejas demais. Quando estiver realmente grande, invento qualquer outra história. Tem tanta gente gorda por aí hoje em dia... Falo que engordei, mas que já penso numa cirurgia de redução do estômago. E em adoção, claro.
Grávido. Grávido! Coisa estranha... Uma criança é uma grande responsabilidade, sem dúvida, exige maturidade, atenção, dinheiro, paciência... O que me preocupa mesmo, no entanto, é saber por onde, diabos, esse bebê vai sair!