25 julho, 2011

Partido Meridional

Nasce uma nova opção. Mais uma opção. Mas não qualquer opção. Trata-se de uma novidade, de uma conquista do povo, mesmo que ele não tenha nem terá qualquer participação na história. Surge, para o delírio dos comentaristas de jornais e para aumentar a confusão dos eleitores, o Partido Meridional.
Não, esse não é o nome do partido. Ainda não ficou decidido qual será. Talvez seja esse mesmo, vá lá, de que importa? Significativa é a proposta inovadora! Não, não as propostas para possíveis e futuras governanças. Essas serão como a dos outros partidos: não teremos ideologia clara, diremos que nosso compromisso é com os eleitores e somente com eles, barganharemos votos no congresso por cargos no governo e, em momento algum, diremos "Sim, fomos nós!". A não ser que se trate de algum investimento positivo...
O que se quis dizer com "proposta inovadora" é quanto a orientação do partido. Não seremos de esquerda. Não seremos de direita. Não seremos do centro. E também não seremos uma cópia do PSD do Kassab. Seremos meridionais. Sim, sulistas, sul-americanos, mas não retrógrados. Gostamos de dinheiro, sim, senhor, e trabalhamos por ele.
Em breve lançaremos um site e um estatuto do partido. Só a mesma baboseira dos outros. O bom mesmo já está pronto. Fizemos um slogan! Vejam se não é bom, caros futuros eleitores: "Partido Meridional: assim como o café, é o mais forte!"

18 julho, 2011

Seio materno

Hei, mãe, que coisa é essa que gira e me deixa tonto, que mundo é esse liquidificando sonhos, pessoas, e tudo mais? Por que me trouxe aqui, afinal? Não posso saltar as órbitas, mudar-me para onde me amem, deitar-me sob a noite sem que ela caia sobre mim? Hein, mãe?
Mãe, estouraram o balão que você encheu. Comeram a cereja do bolo. Levaram meu cobertor embora, mãe, e ninguém veio me cobrir! Mãe, eu estou com frio! Eu estou com fome! Eu estou morrendo de fome e de frio! Eu estou morrendo! A culpa é sua, mãe, mas não é. E agora, faço o quê?
Hei, mãe, eu juro que tentei entender o que se passa, mas não consegui. Você me explicaria? Queria saber pra que tantos passos se todos continuam no mesmo lugar. Queria visualizar a finalidade de se arrumar a cama se se desarrumará com o chegar da noite. Queria achar o motivo das falsas promessas. Queria conhecer a chaira que as pessoas usam pra amolar as palavras. Queria compreender por que se embebedam de ódio e vomitam amor. É querer demais?
Não sei, nem você deve saber. Mães só dão a luz uma vez aos filhos. Depois, só abraços e mãos na cabeça. Mãe, tire a mão da minha e, em vez do abraço, estenda e pegue o meu braço. Se quiser me salvar, mãe. Porque o abismo me chama e ele puxa como a ressaca.
E, hei, mãe, eu quero um beijo de boa-noite.

11 julho, 2011

A parenta

Pensei em algo para escrever (nessa árdua e constante rotina de um escritor). Em busca de inspiração, vi filmes, li livros, passeei por lugares, escutei músicas, conversei um bocado, amei, beijei, vivi; nada!
A inspiração é a parenta de quem mais sinto saudades e que menos vem me visitar. Até hoje não sei onde mora; se soubesse me mudaria para sua casa. Até hoje não sei sua idade; acho que é muito jovem, pois sempre me inunda de criatividade, e também muito madura, pois sempre me parece complexa. Até hoje não troquei uma frase com ela que não fosse "Hei, já vai?". E, mesmo tão ausente, nunca me esqueço dela.
Essa parenta é o inverso de qualquer outro membro da família. É o oposto de uma mãe: não nos manda arrumar a cama ou sair do computador "porque já está muito tarde e você tem aula amanhã cedo, menino!"; é o oposto de um pai: não cobra responsabilidade e empenho nos estudos; é o oposto de uma tia que não o vê há anos: não grita no Brasil para que o Papa possa ouvir que "você cresceu muito, meu filho! Tá lindo!"; é também o oposto de uma namorada: não pergunta "por onde você andou ontem às 17h32 quando te liguei cinco vezes? O senhor pode me explicar?". A inspiração simplesmente surge, maravilhando o ambiente. E sempre vai-se embora antes do casal de amigos chatos e ébrios que resolveu ficar para o jantar.
Não, há tempos não a vejo; passam por meus olhos apenas alguns vislumbres, como num dejà-vu. Enquanto isso, continuo tendo surtos de brancos. Ou melhor, de pretos. Dar um branco é errôneo, pois, segundo a física, o branco é a união de todas as cores e o preto é a ausência delas. Por isso tem me dado um preto.
Perdoe-me por esse texto, leitor, foi apenas o desabafo de um escritor fracassado e sem inspiração.

04 julho, 2011

Louva-a-deus subindo o varal

É com o objetivo de complementar um dos mais completos livros do mundo que escrevo esse texto. Vatsyayana é considerado o autor do Kama Sutra, obra que, até hoje, discutem o caráter e o feitio. Seria religiosa, exaltando princípios hindus? Seria a busca e exaltação do kamadeva, um dos três pilares da cultural indiana? Seria o manual da sacanagem? Não interessa. O importante é o anexo que segue.
Anote, portanto: você precisará de um Cadillac (também conhecido como trapézio de mesa, aparelho para a prática do Pilates), treinamento intenso, fôlego, elasticidade e uma equipe médica de prontidão para o caso de algo não dar muito certo. De posse desses elementos poderá realizar uma nova posição: o "Louva-a-deus subindo o varal".
Deixo os elementos figurados e narrativos a quem quiser detalhar a história. Prefiro me amparar em riqueza técnica. Antes de iniciar a prática sexual, é necessário que se monte a posição. Primeiro sobe a mulher no Cadillac. Para tanto, ela deverá sustentar, apenas com os braços, todo o peso do corpo, abrindo as pernas em um ângulo obtuso, permitindo a penetração. 180°, porém, é a recomendação. Ao homem são dadas possíveis variações de movimentos, mas, via de regra, deverá permanecer sobre as hastes de metal do aparelho, realizando infiltrações favorecidas pela gravidade.
Ao leigo pode parecer complicado, mas o treino dará as condições necessárias para a elongação da cópula. Já foram registrados casos de casais com mais de 3 horas de duração na posição. Ao contrário do que ocorre na natureza, no entanto, não há, necessariamente, o procedimento padrão de a fêmea matar e comer o macho após o gozo. O problema que normalmente se registra é a adoção de um médico ortopedista para ambos pelo resto da vida.