25 outubro, 2010

Uma triste análise bem-humorada

Vai estatizar? Vai privatizar? É a favor? É contra? Afinal, foi um pedaço de papel ou um rolo de fita adesiva? O PT está mentindo? O PSDB está mentindo? Tem alguém falando a verdade? Perguntas, perguntas e mais perguntas e, mesmo após mais de três meses de campanha, foram poucas as respostas dadas ao eleitor sobre a face dos candidatos à presidência da República. De fato, só sabemos que os dois são horríveis!
Dilma vai investir em educação. Serra vai investir em educação. Zé vai melhorar a saúde pública do país. Rousseff vai melhorar a saúde pública do país. Dilminha vai manter e melhorar o Bolsa Família. Serrinha vai manter e melhorar o Bolsa Família. A petista vai construir várias casas populares para os nordestinos pobres. O tucano vai construir várias casas populares para os nordestinos pobres. É o que eles dizem. Qual a diferença de um para o outro? O partido? Sim e não. Afinal, amigo, historicamente vemos que todos os partidos esquecem suas ideologias ao tomar o poder. A única diferença entre Serra e Dilma é que um é careca e a outra usa um capacete como corte capilar. E é isso que vai definir o seu voto?
Serra, como afirma sua campanha, é do bem. Dilma diz amém. E ambos correm atrás dos votos dos religiosos. No Brasil de 2010 vale muito ser evangélico. Só não vale mais que os bens de Edir Macedo, é claro. Uma frase muito bem colocada afirmava que "Se Deus é o caminho, Edir Macedo é o pedágio". E se o dono da Record é o pedágio, foi Serra quem deu o direito ao homem de se instalar nessa estrada para o infinito. Com Serra é assim: passe o asfalto e cobre o pedágio. Com Dilma é assim: passe o asfalto e nunca mais volte para recapeá-lo. Ficamos na mesma...
Hoje é segunda-feira. No domingo voltaremos às urnas. Muito se bradou nesse segundo turno, mas com gritos de ambos os lados não se ouve a ninguém. Isso foi estratégico: na verdade, nem Dilma nem Serra têm algo concreto para falar ao eleitor. Que falta faz Marina Silva... E, claro, que falta faz Plínio Arruda, que podia ser radical, mas pelo menos era ironicamente divertido.

Gosta de posts políticos? Leia esse: "Ao eleitor"

18 outubro, 2010

Apenas mais uma de amor

Os meses passaram na velocidade dos segundos. Era essa a convicção do casal há tão pouco junto, mas deveras unido. Nesse amor de fundo de quintal não houve espaço para desavenças, apenas o entre os dedos para entrelaçarem as mãos; não houve conversas que tomassem tardes inteiras, apenas o beijo, que é a prosa da alma; não houve o desespero, mas saudade (e muita) quando se desencontravam por dias.
Chamavam-se de "mané" e não "amor", como é de praxe. Havia várias coisas que fugiam do cotidiano de um comum casal: riam da desgraça alheia, da desgraça do companheiro, da desgraça, enfim. A menina influenciava o rapaz. Como ela não tinha coração... Apesar dessa falha estrutural (que, na verdade, nada significa, pois é o cérebro quem comanda tudo), amavam-se e diziam isso um ao outro de maneira sincera e genuína. Nenhum, repito, nenhum "eu te amo" foi dito como quem cospe ao chão.
Dizia ele: "Eu te amo, mané; I love you, loser; je t'aime, Pinochet; yo te quiero, estúpida; heil Kaiser, Hitler" e ela respondia "Aishiteru, baka!". Brincadeiras e ironias eram poderosos elementos desse namoro. Reinvenção também, afinal o que importa não é dizer que ama todas as noites, mas como se faz isso. Descobriram, por exemplo, em uma das brincadeiras, que um tapa, um romântico tapa, é o pressuposto de um acolhedor e delicioso abraço, que, por sua vez, é um prelúdio ao beijo, e depois... Olha a malícia, pervertido leitor!
De todos os percalços que talvez encontrem, o pior deles já foi, de certa forma, sanado. Só o tempo poderá separar esses dois seres de outro planeta, o que é triste, mas, ambos já sabem, não é impossível. E se esse futuro chegar, se as mãos se desunirem completamente, a memória cuidará de fazer imortal aquilo que já é eterno.

PS: Te amo, mané!
PS²: você, leitor, que achou tudo isso muito brega, por favor, considere o seguinte: o amor é brega!
PS³: gostou? Olha esse texto aqui então: Perfeição

11 outubro, 2010

O colorido mundo de 2030

- Pai, eu sou homem!
Os pais gritaram histericamente. Sim, os pais, no plural. Um conservador casal de homossexuais via-se agora diante do que já suspeitavam: o filho homem era homem. "Por que, meu Deus, por quê?" perguntavam-se ambos em pensamento, simultaneamente, algo típico de um relacionamento sintonizado. O menino fora adotado há treze anos, quando contava apenas dois, num processo ágil e eficiente, o que era frequente desde a criação da Lei Clodovil Hernandes, que permitia a adoção por casais homossexuais. Que fique claro: a lei, sancionada em 2015, tinha o intuito de desafogar os orfanatos; fazer os gays felizes foi apenas um consequência. Desde então, é claro, muita coisa mudou. O mundo, com o passar dos anos, coloriu-se cada vez mais; o que antes era absurdo virou tendência; o que antes era moderno tornou-se conservador.
- Me abana, querido, me abana, senão vou desmaiar! - gritou um pai, intempestivo, dando sinais de que cumpriria a promessa sem grandes dificuldades.
- Calma, querido, calma... Viu só o que você faz? Nós estávamos descansando calmamente no sofá e você aparece com um furacão desses na nossa sala? - bradou o outro pai, dirigindo-se inicialmente ao esposo e depois ao filho.
- Achei que devia contar pra vocês...
- Ai... Ai... Eu estou vendo um túnel... Querido, me tira desse túnel, querido!!
- Calma, Humberto, chega de drama. A situação é delicada, mas não precisa exagerar!
- Eu estou vendo uma luz rosa no fim do túnel, querido!!
- Chega, Humberto! Vamos, meu filho, explique essa história pra gente.
- Eu estou namorando uma menina, pai.
- Ai que nojo, querido, que nojo!
- Cala essa boca, Humberto, deixa o menino falar!
- E eu estou amando ela...
Humberto colocou as mãos sobre o ouvido e saiu correndo e gritando "La la la la la la la!!!"
- Deixe seu pai para lá, meu filho, assim podemos conversar melhor.
- Ela é linda, pai, e a gente se gosta de verdade. A gente planeja coisas, conversa por horas, troca experiências... Eu quero me casar com ela!
- Calma, meu filho, cuidado pra não se envolver demais... Você vai acabar se machucando... Eu, como pai, esperava outra coisa de você. Mas não podemos controlar os filhos, muito menos sua sexualidade, então, apesar de não gostar, eu lhe apoio, meu filho.
E assim foi. Os pais, Humberto e o mais ponderado, embora decepcionados, mantiveram-se ao lado do filho, contrariando sua postura conservadora habitual. O menino ficou ao lado de quem amava. Por muito tempo. Não se sabe se por amor ou por falta de opção. Aquele casal era Adão e Eva, e no paraíso deles não havia espaço para traições ou proposta indecorosas, já que nessa terra cheia de arco-íris as serpentes comiam outras serpentes e as aranhas devoravam aranhas.

04 outubro, 2010

Censure!

A língua
A língua lambe linda
A língua lambe a louca língua linda
A linda língua lambe louca
Lambe a outra linda língua
Ainda linda, louca,
Linda lambe ainda a língua louca
Lambe língua
A língua linda
Lambe louca
Lambe a linda língua,
A língua louca
A língua linda
A lexical língua
A língua