11 outubro, 2010

O colorido mundo de 2030

- Pai, eu sou homem!
Os pais gritaram histericamente. Sim, os pais, no plural. Um conservador casal de homossexuais via-se agora diante do que já suspeitavam: o filho homem era homem. "Por que, meu Deus, por quê?" perguntavam-se ambos em pensamento, simultaneamente, algo típico de um relacionamento sintonizado. O menino fora adotado há treze anos, quando contava apenas dois, num processo ágil e eficiente, o que era frequente desde a criação da Lei Clodovil Hernandes, que permitia a adoção por casais homossexuais. Que fique claro: a lei, sancionada em 2015, tinha o intuito de desafogar os orfanatos; fazer os gays felizes foi apenas um consequência. Desde então, é claro, muita coisa mudou. O mundo, com o passar dos anos, coloriu-se cada vez mais; o que antes era absurdo virou tendência; o que antes era moderno tornou-se conservador.
- Me abana, querido, me abana, senão vou desmaiar! - gritou um pai, intempestivo, dando sinais de que cumpriria a promessa sem grandes dificuldades.
- Calma, querido, calma... Viu só o que você faz? Nós estávamos descansando calmamente no sofá e você aparece com um furacão desses na nossa sala? - bradou o outro pai, dirigindo-se inicialmente ao esposo e depois ao filho.
- Achei que devia contar pra vocês...
- Ai... Ai... Eu estou vendo um túnel... Querido, me tira desse túnel, querido!!
- Calma, Humberto, chega de drama. A situação é delicada, mas não precisa exagerar!
- Eu estou vendo uma luz rosa no fim do túnel, querido!!
- Chega, Humberto! Vamos, meu filho, explique essa história pra gente.
- Eu estou namorando uma menina, pai.
- Ai que nojo, querido, que nojo!
- Cala essa boca, Humberto, deixa o menino falar!
- E eu estou amando ela...
Humberto colocou as mãos sobre o ouvido e saiu correndo e gritando "La la la la la la la!!!"
- Deixe seu pai para lá, meu filho, assim podemos conversar melhor.
- Ela é linda, pai, e a gente se gosta de verdade. A gente planeja coisas, conversa por horas, troca experiências... Eu quero me casar com ela!
- Calma, meu filho, cuidado pra não se envolver demais... Você vai acabar se machucando... Eu, como pai, esperava outra coisa de você. Mas não podemos controlar os filhos, muito menos sua sexualidade, então, apesar de não gostar, eu lhe apoio, meu filho.
E assim foi. Os pais, Humberto e o mais ponderado, embora decepcionados, mantiveram-se ao lado do filho, contrariando sua postura conservadora habitual. O menino ficou ao lado de quem amava. Por muito tempo. Não se sabe se por amor ou por falta de opção. Aquele casal era Adão e Eva, e no paraíso deles não havia espaço para traições ou proposta indecorosas, já que nessa terra cheia de arco-íris as serpentes comiam outras serpentes e as aranhas devoravam aranhas.

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