24 abril, 2011

Puta revolts!

Perdoe-me, leitor, perdoe-me você que acompanha o blog semanalmente. Hoje não publicarei nenhum texto, nenhuma história, nada. É que estou indignado! Datas, como a Páscoa, fazem-me refletir sobre alguns pontos e acabo em insights sobre minha estupidez. No dia de comer omeletes de cacau e lembrar que o irmão gêmeo de Jesus surgiu para Madalena, três dias após a crucificação do outro, elucidei-me disto:

O coelhinho da Páscoa é um mamífero que bota ovos de chocolate. Como pude acreditar por tanto tempo nesse absurdo?

18 abril, 2011

O futuro

O futuro será tropical, continental, bonito por natureza, ou pelo que restou dela após o desmatamento para aumentar a área de criação de gado. Terá carnaval, datas comemorativas para qualquer futilidade, samba no pé e tiro na laje. Também poderá ser cinza, e, se for, tenha certeza: é queimada ou chuva, ou seja, desabamento de morros enfavelados.
O futuro será honesto. Aparentemente. Senhores bem apessoados dirão "não sei de nada, eu nego, isto é uma calúnia!" e todos, passivamente, acreditarão. O futuro trará consigo coronéis bigodudos entrando na ABL, senhores sem dedo indicando ao povo que candidato deve escolher e muitos outros, como dedos, usando-os todos para tornar privado o que é público. O futuro terá uma bela e extensa Constituição, mas ninguém a cumprirá.
Será assistencialista. Negros, brancos, índios, asiáticos, todos vão se fundir em uma massa heterogênea e dependente. Será estúpido, com professores medíocres e um Estado indiferente. Valerá mais controlar a inflação e o PIB positivo do que as filas dos hospitais.
O futuro será assim, e muito mais. Haverá grandes vexames, muita esperança e poucos resultados, muitos dólares e poucos investimentos, muitos voos e poucos aeroportos, muita cana e nenhuma vantagem econômica em abastecer com um álcool tão caro.
O futuro será assim. Porque o Brasil é o país do futuro.

11 abril, 2011

Aos 18

Aqui, no Brasil, tem-se estipulado uma divisão que, como Jupiá, separa dois estados: a menoridade da maioridade. E temos, como hidrelétrica, os dezoito anos. Quer dizer que, às 00h01 do dia do seu aniversário de 18, você, como num toque de mágica, torna-se um adulto, um homem maduro, responsável, seguro de si e com uma meta clara de vida que o beneficiará e à sociedade? Sabemos que não é bem assim...
A maioridade é apenas um dos pontos dos dezoito anos. Há muitas outras coisas vinculadas aos 18. Podemos dirigir -- mas quem é que nunca pegou o carro do pai antes disso? --, podemos beber -- mas quem é que nunca deu uma sugada no colarinho do chope ou virou o copo enquanto o pai se distraía com uma conversa? --, podemos fumar -- mas quem é que... Bom, esse parêntese tem casos e casos... --, podemos ser presos -- mas e os jovens da Fundação CASA? A maioria procura provar de todas as permissividades da idade, exceto a última. Antigamente, para, ao ser preso, ter tratamentos especiais, formava-se; hoje basta ser um político.
Aos 18 devemos votar. Irrita-me muito que para tirar o título de eleitor leva-se dez minutos, mas para se aposentar é preciso uma vida inteira... Mas, enfim, esse é outro assunto. Aos 18 costuma-se entrar ou cursar o primeiro ano da universidade e iniciar-se no curso escolhido,  na viagem intelectual, na militância de esquerda, nos namoros por interesse, nos debates da UNE, nas orgias com as universitárias -- normalmente com as de Biologia -- e, obviamente, nas bebedeiras homéricas.
No entanto, me preocupa que, aos 18, nós, homens, devemos nos alistar nas Forças Armadas. Graças ao Sr. Olavo Bilac, claro, um nacionalistazinho (pra não dizer outra coisa), poeta incentivador dessa regra estúpida, além dos hinos à Bandeira e à República. É dele a culpa de, aos 18, jovens serem obrigados a ser alistar, e ouvir uma série de militares metidos a macho gritando, e ficar de cueca, às vezes sem, na frente dos ditos machos, e, se tiverem a infelicidade de serem chamados, servirem. Para mim, servir ao exército -- aeronáutica ou marinha -- deveria ser como o seminário: só efetivar seu cadastro após receber o chamado. Algo como:
-- Próximo! Como se chama?
-- João.
-- Conte-me como foi.
-- Estava dormindo e sonhei com o Deodoro da Fonseca dizendo "aliste-se!".
-- Ótimo, você começa na segunda. Próximo!


Obs: Nessa quinta, dia 14, completo 18 anos. Se quiser deixar seus parabéns nos comentários, fique à vontade. Abração!

04 abril, 2011

Ela

Um ponto escuro. Cinza-escuro, muito obrigada, diria. Não o fundo do poço, mas o fim da noite, é certo. Os longos e maciços cabelos negros afirmam isso com a convicção do suicida que pula do penhasco. Assim é ela.
Bela. Mas de forma diferente. Sua beleza é sempre imperceptível no primeiro momento, mas, gozado, há algo ali que atrai e cobra um segundo olhar. Fatal. Ela é especial: basta um mísero gesto, um pequeno esforço, e terá o mundo aos seus pés. Besteira. O mundo é uma tolice, fútil demais. Ela merece mais.
Ela é o paradoxo da perfeição, a ambiguidade da paz, a beleza da guerra, a única que traz de volta a respiração quando me afogo. Igualmente, vê-la é perder o ar. É difícil sobreviver assim.
Ela é sensível, chora por tudo. Ela é apaixonada por gestos e detalhes. Ela não apaga lembranças e se apega a eles enquanto dorme. Ela é o berço da confusão e o fim da serenidade. Nela nasce a poesia, a embriaguês do desejo, o verdadeiro pecado. Indescritível, incompreensível, inconfundível.
Quanto a mim? Sou apenas a doença sem cura que a infectou impiedosamente...

Eu te amo, mané!