19 julho, 2010

Ao eleitor

2010 foi um ano que não começou. Digo isso no pretérito pois tenho convicção de que os poucos eventos que nos restam só terão consequências no futuro. Primeiro foi o carnaval que parou o Brasil; depois a Copa do Mundo; agora as eleições. E se o primeiro, amigo (opa, perdoe-me, resquícios das transmissões na África), exigiu felicidade e o segundo, torcida, este último exige atenção.
Agora, em agosto, começa a propaganda eleitoral gratuita, e, com ela, o desfile de sorrisos, abraços, promessas e discursos de homens e mulheres, os quais até novembro amarão o povo. Penso que o poder (político, principalmente) é uma doença, cujo primeiro sintoma é a alergia às massas.
O que impressiona, no entanto, é a atitude da população diante das urnas. O ato de votar tem, na concepção do povo, o mesmo valor do chute nas questões objetivas das provas escolares. Talvez por isso a educação e a política andem mal deste jeito... Ou o votar seria como apostar nos números da Mega Sena?
A situação, já enraizada, exige mediações para mudarmos. Tentarei algo, portanto. Esse parágrafo será exclusivo como nossas Constituições antigas: não falarei aos moradores das favelas dominadas pelo tráfico, pois, nesses territórios, predomina o coronelismo; não falarei aos que vivem abaixo da linha da pobreza, pois não sou candidato a nada, portanto não quero votos; não falarei nem aos homens, nossa era já passou; falarei às mulheres, as mais sensatas, majoritárias e formadoras de opinião. Peço, encarecidamente, que façam das eleições e do futuro governo uma metáfora com um namoro: ouçam o que eles têm pra dizer, mas não acreditem em tudo; pesquisem seus passados, procurem algo comprometedor; se o casamento acontecer, sejam ciumentas e controladoras, ou seja, perguntem, sem hesitação, onde andam pela noite e, principalmente, o que fazem com o dinheiro do pagamento da conta de luz; se eles forem desleais, faça como em 1992, e peçam a separação.
Ignore o clichê, atente-se apenas a ideia: o voto é o instrumento mais importante que o povo tem para mudar sua realidade. Portanto não o venda por cestas básicas, roupas, alguns trocados ou qualquer outra bobagem! Preservar e valorizar a cultura indígena é compreensível, mas se valer de métodos totalmente prejudiciais como o escambo do pau-brasil por um espelhinho não devia mais ser tolerado. Se, mesmo assim, quiser vender seu voto, troque-o por uma porcentagem do lucro de qualquer empreiteira responsável pela construção de estádios da Copa de 2014.


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5 comentários:

  1. sempre as grandes decisoes no país são tomadas no ano de 'grandes acontecimentos'...como a copa e as olimpíadas, isso tira a atenção do brasileiro pro que realmente importa, o futuro do país.

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  2. Não sei como fico tanto tempo sem vir aqui para conferir os novos posts. Você escreve demasiadamente bem, é incrível, de fato. Meus parabéns!

    Sobre o tema abordado, concordo com tudo, e é bem lamentável ter que concordar, porque acreditar que tudo isso seja a mais pura verdade é de doer, até mesmo para o menos "brasileiro" que se tem no país.

    O problema maior da "massa" é isso mesmo, pensar que a eleião é uma Mega Sena e nunca querer perder, por isso, não importa em quem se vota, o importante é votar no partido que mais aparece na mídia. Aquele café-com leite: PDSB-PT.

    Mas enfim, ótimo post.

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  3. Gostei do post e achei a analogia inteligente. Só tenho mnhas dúvidas se o voto tem mesmo todo esse poder transformador. Pra mim toda eleição é um jogo de cartas marcadas. Parece um pensamento paranóico, mas já tive provas que o negócio pode ser muito mais manipulavel do que no fundo todo mundo acha que é. Fora essa questão, se ninguém me representa eu voto nulo, pois o voto nulo, longe de ser uma anienação, uma falta de comprometimento, é um ato muito engajado se sabemos como e porque ele é usado.

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  4. Gostei da analogia, especialmente quando fala sobre escutar mas não acreditar em tudo. Meu pensamento é, infelizmente, como o da Manu. Todas as vezes que ousei ser "inocente", percebi que havia muito mais para saber e como tudo parece uma troca de favores. Confesso não gostar muito de política, apesar de política ser tudo a nossa volta e é sempre muito fácil apontar soluções moralistas que acabam passando pela tangente quando o assunto é ética, mas gostei mesmo do apelo, parabéns.

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  5. que cabeça dotada de luz,luz essa onde clareia onde muitos veem mas naõ tem a ousadia nata para comentar. sucesso .

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