12 julho, 2010

Férias

Independente da época, e com isso quero dizer estação do ano, em que ocorram, férias sempre são sinônimas de verão, ou seja, combinam com sorvete, calor, praia e trânsito até chegar nela. Durante esse período, teoricamente feliz, mas que normalmente acaba sendo conflituoso a todos, exceto aos donos de pedágio, o pai de meia idade sempre programa uma viagem de carro para a família sem perguntar à mãe de meia idade (que depois dirá "Viu só? Se tivesse falado comigo antes..."): encarrega-se apenas de arrumar as trouxas, chutar os trouxas dos filhos de cinco e treze anos, o qual vive com um fone no ouvido, para dentro do carro e convencer a mulher de que suas flores não morrerão se ficarem  sem água por trinta dias. "Essa é uma espécie desértica, querida, elas estão acostumadas!", explica. Partem. Assim começam as férias.
O pai de meia idade é um homem, e, como todo homem, tem seu orgulho, mas não tem um mapa. Para  um macho, nas palavras do pai de meia idade, "não há necessidade de mapas: eu conheço o caminho". Perdem-se. A mulher, mais desorientada que uma bússola que aponta para o oeste, sugere ao marido que peça informações para alguém. "Para quem? Você está vendo algo aqui além de muito asfalto e mato? Além do mais eu sei para onde vou! Olha ali a placa! Ube... raba? É, Uberaba! É pra lá que eu vou!". "Mas, bem, a gente não ia pra Santos?". "Nós vamos, eu só peguei um atalho". "Ah... E tem praia em Uberaba, bem?".
Nesse momento o caçula, que dormia até então, acorda:
- Falta muito, pai?
- Um pouco, filho...
- E agora, falta muito?
- Não, filho.
- Não falta muito não, né, pai?
- Não, filho, deita ai e dorme enquanto isso...
- Tô sem sono... Falta muito?
- Filho, até quanto você sabe contar?
- Mil, pai.
- Então conte mil vezes até mil!
- Tá, pai. Um, dois, três, quatro...
- Conte baixo, filho!
Depois de muitas voltas, muitas contagens, muitas informações e muitos dias, a família chega à praia e com ela o resto do Brasil, guiado por pais de meia idade impulsivos. Nosso pai, desesperado, foge com a mulher e os filhos para uma cidade do interior e com praia. Praia artificial, produto da construção de algumas hidrelétricas: Ilha Solteira.
A última linha seria um bom fim, mas não se pode terminar sem se considerar o seguinte: mães odeiam férias. Não só porque elas tem de cuidar dos filhos em período integral, mas porque, mesmo que a família viaje, continuam tendo de cozinhar para todos. Normalmente isso provoca uma revolução feminista, contida por almoços em restaurantes ou separações. E, saiba agora, meu bom pai de meia idade, se a separação não vier dessa forma, virá na volta para casa, quando sua mulher descobrir que suas flores não eram uma espécie desértica.

4 comentários:

  1. sim eu acho que é isso mesmo toda essa coisa de férias! Esta tal coisa que nos desperta tanto interesse! até em fazer a contagem regressiva para que chegue logo!!! e que nós possamos ter nosso tão esperado periodo de descanso!! Muito bom principalmente quando este periodo é passado com a familia e amigos!! Enfim Gostei muito deste Post!!

    ResponderExcluir
  2. Aff! estava doida de vontade de tirar férias, mas agora, creio que o ideal é uma pequena viagem SOZINHA!

    ResponderExcluir
  3. Adoro os seus textos... leitura leve e gostosa que nos faz rir de nós mesmos!
    Parabens mais uma vez!

    ResponderExcluir
  4. Parece que estou dirigindo esse automóvel. É duro, mas a cena é muito nítida. Não sei, mas espero não chegar na separação. Que "visual"!

    ResponderExcluir

O que achou do post?