08 novembro, 2010

Passadismo

Eu caio. Desço no submundo dos escrúpulos. Na queda me passa a cinza fumaça, o carbono branco, negro, vermelho, amarelo, que me tocam a pele e me contraem os poros. Arrepiam-se os pelos quando, por fim, paro de cair ao chegar a um lago frio, não pela temperatura, mas pela ausência de peixes, plantas, água pura... Que mundo é esse?
Que mundo é esse? Que mundo é esse que não escolhi ocupar? Que mundo é esse que me foi dado de bandeja no presente, como sendo um presente? Os homens acham que é o deles, o autêntico mundo civilizado. Se o é, preferiria estar no das bestas. Que civilidade há, afinal, em morrer sufocado com tanto ar disponível, em esquecer os passos para se viver sobre rodas, em assistir à explosão de uma bomba como se fosse fogos de artifício?
E caminhando por entre prédios, pulando de edifício em edifício, vejo que fizeram as ruas e se esqueceram das calçadas: compre um carro ou sente-se em frente à TV. Mais: arrancaram os troncos, esmigalharam as folhas, concretaram as raízes. E plantaram-nas de volta? Vi uma cidade sem mudas que, por sua ausência, gritava ininterruptamente. É sempre assim: com mudas, calam-se; sem mudas, as máquinas fazem sua sinfonia.
Avante, ludistas! Vamos, façam seus trabalhos, cumpram seus papéis. A história precisa mais uma vez de vocês! É preferível a vida sádia na ignorância à morte nas trevas da luz. Dêem-me um poço que eu pulo nas profundas águas! Dêem-me um túnel! Mas se a luz ao fundo for a de um trem vindo em minha direção, fecho os olhos. Odeio todo esse futurismo!

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