14 março, 2011

Tarado por blusas

Sua tara era por blusas. Leia  tara num sentido amplo, como vício e atração sexual. Há quem só transe com meia; ele só fazia com uma blusa. Tirava durante o ato, mas só no momento certo: achava muito sexy o deslizar do zíper. Fugindo ao aspecto sexual e generalizando, voltamos ao começo: amava blusas.
Tinha-as de todas as formas, cores, modelos. "Para cada frio, uma blusa", dizia. Uma verdade contestável, já que saía pelas ruas até no calor com elas -- abertas.
Em sua casa havia três aparelhos de ar condicionado em cada sala. Não que sentisse calor ou gostasse do frio, mas precisava do clima adequado para usar suas blusas. Às vezes tremia, é verdade, mas sorria sempre. Não seria exagero dizer que, ao fechar uma blusa em seu corpo, abria um sorriso em seu rosto. Era um tarado!
De uns tempos pra cá, no entanto, algo mudou em sua vida. Não, não abandonou as blusas, mas desistiu da diversificação. Sem uma explicação lógica ou uma aparente causa, passou a usar somente uma blusa: azul, desgastada pelas lavagens, com bolsos laterais e capuz. Era fraca contra o frio intenso e pesada contra o sol. Os picos de suor e tremeliques eram constantes.
A blusa lhe privou de suas viagens e de sua casa, das ruas quentes, do mundo. Instantaneamente, o homem, sempre bem situado, perdeu seu lugar ao sol. Ou melhor, desistiu dele para não suar. De seu lugar à nevasca também, para não morrer de hipotermia. Uma blusa, uma simples blusa, apagou o espaço daquele homem no universo. Mas ele não a tirava: era sua verdadeira camada lipídica.
Seu fim não interessa. Basta relembrar e reafirmar que aquele homem era um tarado. Um verdadeiro tarado!

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