07 março, 2011

Reflexões de quarta-feira de cinzas

Ah!, o Carnaval... Mais um se foi e eu, novamente, fiz a promessa utópica de que nunca mais assistirei aos desfiles.
Sim, a mesmice de sempre passou pelas avenidas de São Paulo e Rio, trazidas, obviamente, pela comunidade -- na única data que pode descer do morro com orgulho de si mesma -- e seus respectivos presidentes bicheiros e/ou traficantes. Faça o teste: chame, em alto e bom som, em algum período que não seja este, alguém pertencente a alguma comunidade e tente confirmar sua origem. Essa pessoa abaixará a cabeça e tentará ocultar a face. Assim:
-- Hei! Você mesmo! É de Nilópolis?
--Fala baixo, pô!
Os sambas sempre englobam temas ou palavras africanas, além de acrescentar raça, miscigenação, caravelas, imigração, história e pandeiro. Os enredos são sobre acontecimentos históricos, alguma data ou personalidade ou qualquer futilidade. Se algo foge disso, a escola se destaca e é campeã ou ganha poucos pontos e cai para o Grupo de Acesso.
As mulheres compensam todos os aspectos negativos do carnaval. Todas exuberantes, sejam celebridades, anônimas ou beldades da comunidade, e polêmicas; causam fascínio ao turista, notícias aos repórteres e discussão entre os conservadores, que conseguem se incomodar com tapas-sexo de três centímetros. Os destaques das alegorias, no entanto, passam despercebidos, mesmo estando a mais de dez metros de altura. Isso porque todos têm mais de quarenta anos, enfeitam-se com um ridículo e gigantesco rabo de pavão, vêm agarradinhos a duas hastes de metal e gostam de um... -- faça a rima que quiser, leitor!
Os julgamentos são comprados -- os bicheiros negociam o DEZ!!! pela vida do jurado que, quase imediatamente, aceita as condições impostas -- e, por cerca de duas horas, intercala notas máximas e exaltações às mães de quem não as deu.
E o pior de tudo isso é que eu, apesar de ter ciência da situação, passo as madrugadas carnavalescas grudado na TV e na minha caneca de café. É complicado... Se eu tivesse um pingo de sensatez, iria à Bahia e peregrinaria naqueles arrastões de adestração humana, atrás de um trio elétrico qualquer.


NOTA: Esse texto foi escrito no ano passado, após o término do Carnaval. Coloquei-o aqui agora e antes da quarta-feira de cinzas porque achei que era conveniente e, de forma mais resumida, porque faço o que quiser no meu blog. Obrigado

2 comentários:

  1. voce consegue ter uma visao que me impressiona *-*
    parabens, lindo!
    e ah, acho que a beija-flor, minha escola do coraçao, ganha até falando do roberto carlos --'

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  2. Então né, muito bom...
    Mas eu assisto carnaval porque acho tudo muito bonito, eu gosto das apresentações...
    Eu gosto das fantasias.
    Então, mas isso é a mesma coisa que eu dizer que assisto novela por gostar de algum enredo...
    é a simples e pura alienação... fazer o que...

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