06 dezembro, 2010

As formigas

É natural à formiga tomar recursos da natureza e guardá-los em seu lar, esconder-se, atacar até quando não é preciso, abater o inimigo, armazenar seus tesouros no fim do último túnel. O que não é natural, apesar de cada vez mais frequente, é o homem metamorfosear-se nesse inseto e embrenhar-se em seu formigueiro.
Não há romantismo nem aspectos kafkanianos na metáfora. É apenas a realidade ilustrada nas características de um animal. O homem escala os morros como a formiga escala as paredes, e depois cava fundo, cria caminhos, conexões com outros formigueiros, armazena recursos e tesouros dos quais se questiona a origem e serve ao dono do morro, ou melhor, à Rainha. Nasce a comunidade.
Como é natural no reino animal, a disputa pelo espaço é constante e as batalhas intraespecíficas são frequentes. Anexar o formigueiro ao lado é o objetivo, o qual, por vezes, é disfarçado por falsas alianças. Não se pode confiar em animais com antenas... Principalmente se essas antenas forem de TV a cabo ilegalmente instaladas (o famoso Skygato) ou para a comunicação por rádio entre os membros da comunidade.
Enquanto não sai do formigueiro, ninguém se importa com nada. Mas um dia as formigas saem e sua picada dói, irrita, pode até matar e, não duvide, mata constantemente. Há momentos em que pisar em um ou outro inseto não basta; é preciso eliminá-los todos; para isso usa-se veneno.
Em operações especiais, pulverizam os pontos críticos e toda a comunidade é afetada. As formigas tentam se defender de todas as formas: fazem barricadas, queimam carros e ônibus e, quando não há mais opção, fogem. O homem consegue dominar os animais, ou assim lhe parece.
 Então gritam, cospem aos ventos a novidade, sussurram com brados a todos os ouvidos: dedetização bem-sucedida! Um engano, é claro. Por mais eficiente que seja o veneno ou constante que sejam as ações de controle às pragas, é impossível eliminar as formigas. E por uma razão óbvia: sempre haverá açúcar.

2 comentários:

  1. oshi, meu rei,
    manda pra folha de sao paulo esse bagulho.. *-*

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  2. Nossa, que texto incrível! Você conseguiu fazer uma comparação muito boa! Nem sei o que comentar, ficou perfeito!!!
    Parabéns!

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