01 março, 2010

Lavem a louça!


Servicinho da tarde... Só mais um cliente. Pensando melhor, era mais que um cliente e, acredite, isso não é um bom presságio. Assim eu penso. Assim é. Eu e minhas verdades absolutas. Sempre me julgam; sempre relevo. Julgamentos fazem parte do ofício. Combinação harmônica, não?: preconceito com desejo, sexo com pagamento, orgasmo com teatro.
O sujeito que atendi tinha um perfil típico: altura mediana, roupa mediana, carência... Bom, era esse o detalhe que fazia do rapaz – sim, era um rapaz, vinte anos, no máximo – mais que um cliente. Trazia consigo também óculos fundos, um tênis estilizado e uma jaqueta bege. Simplificaria se dissesse que era estudante, mas aprendi que simplificar e resumir são verbos dispensados por toda boa profissional, como eu. Não entendi a jaqueta que trajava... Não entendo, aliás, agasalhos, calças, sapatos, tênis, camisas, camisetas, regatas, bermudas, enfim, esse monte de pano; entendo mini-saia, salto alto, top e roupa íntima. Pronto, isso me basta!
Recebi o chamado do jovem e parti para sua casa. Já frequentei diversas e, hoje, facilmente sei definir um bom piso, uma boa porta, uma boa cama, um bom lençol, um bom cliente. Ali, que era um apartamento mísero, o piso era barulhento, a porta não trancava, a cama ameaçava tombar, o lençol cheirava a mofo e o cliente você já sabe como era.
– Katya – apresentei-me – ou Katya Nenê, como estava nos Classificados, se preferir.
Ele não disse nada, apenas acenou para que eu entrasse. Entramos, despimo-nos, praticamos, caímos. Ou melhor, caiu. Eu terminei o serviço e me levantei para fumar um cigarro. Enquanto a fumaça subia, o rapaz reolveu saltar a primeira frase desde que estava ali:
– Eu a amo!
– Ah, meu filho, nesse caso vou ter que cobrar um adicional! Sabe como é? Com amor é sempre mais caro!
– Vem cá, cadê meu dinheiro?
– Sobre a mesa da sala.
– Até, então.
E fui. Desses insanos é que fujo toda noite. Peguei minha roupa, meu mais do que justo pagamento e fui!
Atravessava a Praça da Sé quando senti um, dois, tantos e tantos golpes dilacerantes, distribuídos com a raiva de um rebelde e a sutileza de um amante.
– Eu a amo! – dizia o rapaz.
O que mais me doeu não foram os golpes ou a morte, mas o fato do crime ser executado com uma faca de serra pútrida, que, com certeza, jazia na pia do estudante por anos...

4 comentários:

  1. POIS É. NIGUÉM MERECE TER UMA MORTE ASSIM, SEM GLAMOUR.
    APOSTO QUE ELA QUERIA TER MORRIDO FEITO CLEOPATRA; UM SEI LÁ, COM UM SERRA ELÉTRICA NOVA - CARA - USADA UMA ÚNICA VEZ E NUNCA MAIS.
    PREPOTENTE ESSA KATYA!

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  2. Muito bom seu blog! virei frequentador! to divulgando no meu! abraço. http://revoltacotidiana.blogspot.com/

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  3. hauhau Ninguém merece nerd e caloteiro! "Profissas" e consultoras de Avon e Jequiti entendem bem isso!:(

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