28 março, 2011

Mamonas parnasianas

Garota, teus cabelos gozam de estilo próprio
Teus aparatos físicos desenham-se como um violão
Meu doce vulgarmente conhecido como "beijinho" ou "cocada"
Estás a me alucinar

Minha Brasília de cor amarelada
Abre as portas a ti
A fim de nos amarmos
Desnudos no litoral paulista

Pois tu, queridíssima
Deixou-me em êxtase
Já não enfrento a solidão
Tu és fantástica, minha salvação

La musique est très bonne
Oxente, ai, ai, ai! -- interjeições baianas
Não é da vontade da dama ter-me como esposo
(Novas interjeições baianas)
Em minha Brasília de cor amarelada equipada com calotas dos pampas
Ela se recusa a entrar
(Mais interjeições baianas)

Feijão e charque,
A miserável não deseja se entregar
Todavia, ela é bela
Extremamente bela
Très, très beau

Tu me alucinas
Oui, non
Meu doce vulgarmente conhecido como "beijinho" ou "cocada"

La musique est très bonne
Oxente Paraguai - interjeição binacional
À fronteira do Brasil ela não quis se dirigir
(Nova interjeição binacional)
Comprei-lhe um tênis e uma calça falsificados
E ela não as aceitou
(Mais uma interjeição binacional)

Já não sei de quais métodos me valho
Para tê-la em meus braços
Pois ela é bela
Extremamente bela
Très, très beau

21 março, 2011

Sem pelos; sem pena

Vem crescendo o número de homens que se depilam. Para o delírio feminino. Não é uma questão estética, visto que, ainda hoje, encontram-se fêmeas fanáticas por machos peludos. Trata-se de vingança. O êxtase de uma feminista é fazer sofrer um homem: e, para isso, nada melhor que a depilação.
Dá pra ver a satisfação nos olhos de uma depiladora ao ter, em seu salão, um homem. Quanto mais primitivo for, mais feliz ela fica. Convidativa, aparentemente inofensiva, a mulher chama o primata, que fica só de sunga e deita-se, submisso.
Não é este ou aquele fator, mas a situação que traz prazer à mulher. O primata está deitado, inferior e completamente complacente com o que está para acontecer. A sensação é de poder e a cera, nesse caso, é a espada da depiladora. E, meu amigo, esta mulher desfere golpes e manuseia sua arma como ninguém. A dor intensa é o mínimo que ela proporciona.
Começa o ataque. Não é a mão da depiladora que puxa a cera; é a de todas as mulheres da história, em sincronia. Não é a dor de um homem exclamada em seus gritos; é a vingança por todos os séculos de sofrimento a que estiveram sujeitas as fêmeas. Cada pelo retirado equivale a um sorriso. E um, um pelo encravado é a apoteose.
Sádica, a depiladora se ri, enquanto o homem chora. Quando pensa que acabou, lembra-se que tem outra perna, o peito, as costas... Lembra-se que, quando o pelo crescer, ele voltará ao salão. Lembra-se que anda extremamente metrossexual e masoquista ao extremo. Apanhara da mulher na cama na última noite, levara um esporro da chefe no trabalho e agora isso! É triste -- e doída -- a vida do homem moderno.
Já acostumada aos tapas seculares, a mulher não dá tanta atenção à depilação. A não ser que seja em um homem, claro. Mas isso é só o começo! Percebe-se que elas só pararão quando conseguirem passar cera no nosso saco. E, garanto, elas vão puxar sem dó.

14 março, 2011

Tarado por blusas

Sua tara era por blusas. Leia  tara num sentido amplo, como vício e atração sexual. Há quem só transe com meia; ele só fazia com uma blusa. Tirava durante o ato, mas só no momento certo: achava muito sexy o deslizar do zíper. Fugindo ao aspecto sexual e generalizando, voltamos ao começo: amava blusas.
Tinha-as de todas as formas, cores, modelos. "Para cada frio, uma blusa", dizia. Uma verdade contestável, já que saía pelas ruas até no calor com elas -- abertas.
Em sua casa havia três aparelhos de ar condicionado em cada sala. Não que sentisse calor ou gostasse do frio, mas precisava do clima adequado para usar suas blusas. Às vezes tremia, é verdade, mas sorria sempre. Não seria exagero dizer que, ao fechar uma blusa em seu corpo, abria um sorriso em seu rosto. Era um tarado!
De uns tempos pra cá, no entanto, algo mudou em sua vida. Não, não abandonou as blusas, mas desistiu da diversificação. Sem uma explicação lógica ou uma aparente causa, passou a usar somente uma blusa: azul, desgastada pelas lavagens, com bolsos laterais e capuz. Era fraca contra o frio intenso e pesada contra o sol. Os picos de suor e tremeliques eram constantes.
A blusa lhe privou de suas viagens e de sua casa, das ruas quentes, do mundo. Instantaneamente, o homem, sempre bem situado, perdeu seu lugar ao sol. Ou melhor, desistiu dele para não suar. De seu lugar à nevasca também, para não morrer de hipotermia. Uma blusa, uma simples blusa, apagou o espaço daquele homem no universo. Mas ele não a tirava: era sua verdadeira camada lipídica.
Seu fim não interessa. Basta relembrar e reafirmar que aquele homem era um tarado. Um verdadeiro tarado!

07 março, 2011

Reflexões de quarta-feira de cinzas

Ah!, o Carnaval... Mais um se foi e eu, novamente, fiz a promessa utópica de que nunca mais assistirei aos desfiles.
Sim, a mesmice de sempre passou pelas avenidas de São Paulo e Rio, trazidas, obviamente, pela comunidade -- na única data que pode descer do morro com orgulho de si mesma -- e seus respectivos presidentes bicheiros e/ou traficantes. Faça o teste: chame, em alto e bom som, em algum período que não seja este, alguém pertencente a alguma comunidade e tente confirmar sua origem. Essa pessoa abaixará a cabeça e tentará ocultar a face. Assim:
-- Hei! Você mesmo! É de Nilópolis?
--Fala baixo, pô!
Os sambas sempre englobam temas ou palavras africanas, além de acrescentar raça, miscigenação, caravelas, imigração, história e pandeiro. Os enredos são sobre acontecimentos históricos, alguma data ou personalidade ou qualquer futilidade. Se algo foge disso, a escola se destaca e é campeã ou ganha poucos pontos e cai para o Grupo de Acesso.
As mulheres compensam todos os aspectos negativos do carnaval. Todas exuberantes, sejam celebridades, anônimas ou beldades da comunidade, e polêmicas; causam fascínio ao turista, notícias aos repórteres e discussão entre os conservadores, que conseguem se incomodar com tapas-sexo de três centímetros. Os destaques das alegorias, no entanto, passam despercebidos, mesmo estando a mais de dez metros de altura. Isso porque todos têm mais de quarenta anos, enfeitam-se com um ridículo e gigantesco rabo de pavão, vêm agarradinhos a duas hastes de metal e gostam de um... -- faça a rima que quiser, leitor!
Os julgamentos são comprados -- os bicheiros negociam o DEZ!!! pela vida do jurado que, quase imediatamente, aceita as condições impostas -- e, por cerca de duas horas, intercala notas máximas e exaltações às mães de quem não as deu.
E o pior de tudo isso é que eu, apesar de ter ciência da situação, passo as madrugadas carnavalescas grudado na TV e na minha caneca de café. É complicado... Se eu tivesse um pingo de sensatez, iria à Bahia e peregrinaria naqueles arrastões de adestração humana, atrás de um trio elétrico qualquer.


NOTA: Esse texto foi escrito no ano passado, após o término do Carnaval. Coloquei-o aqui agora e antes da quarta-feira de cinzas porque achei que era conveniente e, de forma mais resumida, porque faço o que quiser no meu blog. Obrigado